A Recoletora é um projeto-piloto que nasce em fevereiro de 2021, com o apoio da Porto Design Biennale. Tendo por base a área geográfica dos municípios promotores da iniciativa — Porto e Matosinhos — iniciamos o nosso trabalho de campo com a escolha de quatro zonas verdes de estudo, com diferentes habitats, de forma a garantir-se o levantamento de uma amostra representativa deste território no que toca às espécies silvestres comestíveis.
Das várias excursões e visitas que fizemos, selecionamos dois terrenos em Matosinhos (Perafita e Leça da Palmeira) e dois no Porto (Aldoar e Fontainhas). Nesta seleção, preocupamo-nos em apresentar diferentes tipologias de espaço, desde baldios urbanos a matas, zonas à beira-mar e à beira-rio, locais centrais e periféricos.
Na procura destes locais, evitamos terrenos manifestamente contaminados por pesticidas ou outros agentes poluentes, como bermas de estradas, esgotos ou unidades industriais. No entanto, como é sabido, as cidades são zonas potencialmente poluídas, pelo que não nos é possível assegurar uma recoleção segura.
O objetivo principal deste mapeamento é assinalar espaços nas cidades que possam ser visitados em percursos guiados, de forma a transmitirem-se conhecimentos práticos sobre a flora silvestre comestível, nomeadamente no que diz respeito às formas de identificação destas espécies no terreno.
FIG 1. Mapa: Matosinhos, Leça da Palmeira (Capela da Boa Nova)
FIG 2. Mapa: Matosinhos, Perafita (Sepulturas Medievais)
FIG 3. Mapa: Porto, Aldoar (Monte da Ervilha)
FIG 4. Mapa: Porto, Fontainhas (Ramal da Alfândega)
Leça da Palmeira: Capela da Boa Nova
Quisemos introduzir no nosso mapeamento um local à beira-mar, na tentativa de ver representados no arquivo exemplares da flora espontânea da orla costeira. Assim sendo, rumamos a Leça da Palmeira e junto à Capela da Boa Nova, espaço de culto para os pescadores locais que ali pedem proteção divina, encontramos um terreno diverso do ponto de vista das espécies marítimas comestíveis. A área contígua à Capela combina zonas planas de terra, uma praia de areia numa cota mais baixa e também extensões de rocha com forte pendente. Na zona arenosa com vegetação e nos rochedos junto ao mar, encontramos espécies nativas do litoral atlântico como o funcho marítimo, o cardo-da-praia, a cenoura-brava, a eruca marítima, mas também o chorão-da-praia, planta extremamente invasora que foi inserida no nosso território para fixação das dunas.
Perafita: Sepulturas Medievais
No final da Travessa do Cabo do Mundo, em Perafita, encontramos uma necrópole classificada como monumento de interesse municipal, constituída por 5 sepulturas não-antropomórficas escavadas no granito, datadas da Alta Idade Média (séc. VII - XI). É um local alto e de boa visibilidade para o mar, bem como para os terrenos em redor que são, na sua maioria, agrícolas. A zona das sepulturas configura-se como um descampado extenso e muito variado no que toca à flora espontânea comestível. Aquando da nossa primeira visita, no mês de Abril, a vegetação rasteira estava toda florida, e os pampilhos-das-searas, também conhecidos por malmequeres, pontuavam a paisagem com a sua flor amarela comestível. Mesmo ao lado da zona das sepulturas existe uma mata onde predominam os eucaliptos, na qual encontramos o único espécime de sobreiro em todo o nosso mapeamento, bem como alguns exemplares da saborosa e avinagrada erva-azeda (Rumex acetosa subsp. acetosa). Nos trilhos que atravessam e cercam este local, conseguimos identificar e recoletar cerca de 30 espécies silvestres comestíveis para o nosso herbário.
Fontainhas: Ramal da Alfândega
O antigo ramal da Alfândega, nas Fontainhas, foi um dos primeiros locais mapeados. Esta curta via férrea, desativada em 1989, era dedicada exclusivamente ao transporte de mercadorias, que chegavam de barco ao porto da Alfândega e eram depois distribuídas para o resto do país a partir da estação de Campanhã. Há muito que os comboios deixaram de passar nestas linhas mas o trajeto, rasgado por vários túneis, continua bem marcado na paisagem, sempre paralelo ao rio Douro.
Assim que fizemos o percurso até ao fim, acompanhados por uma vista desafogada sobre o rio e pela bonita sucessão de pontes, confirmamos que o local era muito variado no que toca à vegetação espontânea comestível (inventariamos cerca de 30 espécies), indo das ervas mais rasteiras a cactos e árvores de médio porte.
Aldoar: Monte da Ervilha
Este terreno, rodeado por vários prédios habitacionais e localizado mesmo ao lado do estádio do Futebol Clube da Foz, é um dos quatro locais mais densos e ricos em vegetação espontânea comestível mapeados pela Recoletora. Quando acedido pela entrada sul, vindos da Praça do Império, reparamos que o local está ladeado por um conjunto de hortas comunitárias, tirando proveito do ribeiro que o atravessa e da sombra proporcionada pelo denso arvoredo. A zona é muito fértil e húmida todo o ano, de um verde exuberante, sendo por isso propícia ao aparecimento de espontâneas como o alho-bravo, a silva e o cardo-dos-picos, mas também outras como a urtiga dióica, a capuchinha e o funcho que surgem em núcleos populacionais de muitos indivíduos.
Este local, hoje um baldio urbano de árvores de grande porte, foi outrora habitado. Acredita-se que a ocupação do Monte da Ervilha remonta à pré-história, pelas ferramentas em pedra encontradas no local. Neste mesmo sítio foi edificado o "Espaldão", uma fortificação militar mandada construir pelo rei D. Miguel I que serviu a Guerra Civil Portuguesa entre 1828-1834, também conhecida como o "Forte da Ervilha". Apesar de muito degradado e de difícil reconhecimento, é um dos poucos vestígios arquitectónicos do Cerco do Porto.
Nestes quatro terrenos mapeados, inventariamos 68 espécies espontâneas comestíveis, listadas alfabeticamente abaixo. Deste total, investigamos, compilamos e criamos conteúdos para 10 plantas, que serão introduzidas ao longo das próximas semanas no nosso arquivo.
A
Abrotea (Asphodelus ramosus)
Acácia-bastarda (Robinia pseudoacacia)
Agrião (Nasturtium officinale)
Alfavaca-de-cobra (Parietaria sp.)
Alho-bravo (Allium triquetrum)
Amor-de-hortelão (Galium apparine)
Ansarina branca (Chenopodium album)
Avoadinha (Conyza sp.)
Azedas (Rumex induratus)
Acelga Brava (Beta maritima)
Avenca (Adiantum capillus-veneris)
B
Beldroegas (Portulaca oleracea)
Bolsa-de-pastor (Capsella bursa-pastoris)
Bredo (Amaranthus cruentus)
C
Calendula (Calendula officinalis)
Camomila (Matricaria chamomilla)
Capuchinha (Tropaeolum majus)
Cardo-dos-picos (Galactites tomentosus)
Cardo-da-praia (Eryngium maritimum)
Cenoura-brava (Daucus carota)
Chicória (Cichorium intybus)
Chorão-da-praia (Carpobrotus edulis)
D
Dente-de-leão (Taraxacum sp.)
Diabelha (Plantago coronopus)
E
Eruca-da-praia (Cakile maritima)
Erva-de-São-Roberto (Geranium robertianum)
Erva-Azeda (Rumex acetosa)
Ervilhaca (Vicia sp.)
Espargo (Asparagus acutifolius)
Espinafre (Spinacia oleracea)
F
Feto (Pteridium aquilinum)
Figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica)
Funcho (Foeniculum vulgare)
Funcho marítimo (Crithmum maritimum)
G
Giesta (Cytisus striatus)
H
Hortelã-de-burro (Mentha suaveolens)
L
Linho (Linum usitatissimum)
Labaça (Rumex crispus)
M
Madressilva (Lonicera japonica)
Malva (Malva sp.)
Margarida (Bellis perennis)
Meliloto (Melilotus officinalis)
Morugem (Stellaria media)
Mostarda-brava (Sinapis arvensis)
O
Olho-de-mocho (Tolpis barbata)
P
Pampilho das searas (Glebionis segetum)
Poejo (Mentha pulegium)
R
Roseira-brava (Rosa canina)
Roselha (Cistus sp.)
S
Sabugueiro (Sambucus nigra)
Saramago (Raphanus raphanistrum)
Senécio (Senecio vulgaris)
Serralha (Sonchus oleraceus)
Silene (Silene vulgaris)
Silva (Rubus ulmifolius)
Soagem (Echium vulgare)
Sobreiro (Quercus suber)
T
Tagueda (Dittrichia viscosa)
Tanchagem (Plantago major)
Tanchagem (Plantago lanceolata)
Tojo (Ulex europaeus)
Trevos (Trifolium pratense)
U
Umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris)
Urtiga (Urtica dioica)
Urtiga (Urtica urens)
Urtiga mansa (Lamium purpureum)
A Recoletora é um projeto-piloto que nasce em fevereiro de 2021, com o apoio da Porto Design Biennale. Tendo por base a área geográfica dos municípios promotores da iniciativa — Porto e Matosinhos — iniciamos o nosso trabalho de campo com a escolha de quatro zonas verdes de estudo, com diferentes habitats, de forma a garantir-se o levantamento de uma amostra representativa deste território no que toca às espécies silvestres comestíveis.
Das várias excursões e visitas que fizemos, selecionamos dois terrenos em Matosinhos (Perafita e Leça da Palmeira) e dois no Porto (Aldoar e Fontainhas). Nesta seleção, preocupamo-nos em apresentar diferentes tipologias de espaço, desde baldios urbanos a matas, zonas à beira-mar e à beira-rio, locais centrais e periféricos.
Na procura destes locais, evitamos terrenos manifestamente contaminados por pesticidas ou outros agentes poluentes, como bermas de estradas, esgotos ou unidades industriais. No entanto, como é sabido, as cidades são zonas potencialmente poluídas, pelo que não nos é possível assegurar uma recoleção segura.
O objetivo principal deste mapeamento é assinalar espaços nas cidades que possam ser visitados em percursos guiados, de forma a transmitirem-se conhecimentos práticos sobre a flora silvestre comestível, nomeadamente no que diz respeito às formas de identificação destas espécies no terreno.
FIG 1. Mapa: Matosinhos, Leça da Palmeira (Capela da Boa Nova)
FIG 2. Mapa: Matosinhos, Perafita (Sepulturas Medievais)
FIG 3. Mapa: Porto, Aldoar (Monte da Ervilha)
FIG 4. Mapa: Porto, Fontainhas (Ramal da Alfândega)
Leça da Palmeira: Capela da Boa Nova
Quisemos introduzir no nosso mapeamento um local à beira-mar, na tentativa de ver representados no arquivo exemplares da flora espontânea da orla costeira. Assim sendo, rumamos a Leça da Palmeira e junto à Capela da Boa Nova, espaço de culto para os pescadores locais que ali pedem proteção divina, encontramos um terreno diverso do ponto de vista das espécies marítimas comestíveis. A área contígua à Capela combina zonas planas de terra, uma praia de areia numa cota mais baixa e também extensões de rocha com forte pendente. Na zona arenosa com vegetação e nos rochedos junto ao mar, encontramos espécies nativas do litoral atlântico como o funcho marítimo, o cardo-da-praia, a cenoura-brava, a eruca marítima, mas também o chorão-da-praia, planta extremamente invasora que foi inserida no nosso território para fixação das dunas.
Perafita: Sepulturas Medievais
No final da Travessa do Cabo do Mundo, em Perafita, encontramos uma necrópole classificada como monumento de interesse municipal, constituída por 5 sepulturas não-antropomórficas escavadas no granito, datadas da Alta Idade Média (séc. VII - XI). É um local alto e de boa visibilidade para o mar, bem como para os terrenos em redor que são, na sua maioria, agrícolas. A zona das sepulturas configura-se como um descampado extenso e muito variado no que toca à flora espontânea comestível. Aquando da nossa primeira visita, no mês de Abril, a vegetação rasteira estava toda florida, e os pampilhos-das-searas, também conhecidos por malmequeres, pontuavam a paisagem com a sua flor amarela comestível. Mesmo ao lado da zona das sepulturas existe uma mata onde predominam os eucaliptos, na qual encontramos o único espécime de sobreiro em todo o nosso mapeamento, bem como alguns exemplares da saborosa e avinagrada erva-azeda (Rumex acetosa subsp. acetosa). Nos trilhos que atravessam e cercam este local, conseguimos identificar e recoletar cerca de 30 espécies silvestres comestíveis para o nosso herbário.
Fontainhas: Ramal da Alfândega
O antigo ramal da Alfândega, nas Fontainhas, foi um dos primeiros locais mapeados. Esta curta via férrea, desativada em 1989, era dedicada exclusivamente ao transporte de mercadorias, que chegavam de barco ao porto da Alfândega e eram depois distribuídas para o resto do país a partir da estação de Campanhã. Há muito que os comboios deixaram de passar nestas linhas mas o trajeto, rasgado por vários túneis, continua bem marcado na paisagem, sempre paralelo ao rio Douro.
Assim que fizemos o percurso até ao fim, acompanhados por uma vista desafogada sobre o rio e pela bonita sucessão de pontes, confirmamos que o local era muito variado no que toca à vegetação espontânea comestível (inventariamos cerca de 30 espécies), indo das ervas mais rasteiras a cactos e árvores de médio porte.
Aldoar: Monte da Ervilha
Este terreno, rodeado por vários prédios habitacionais e localizado mesmo ao lado do estádio do Futebol Clube da Foz, é um dos quatro locais mais densos e ricos em vegetação espontânea comestível mapeados pela Recoletora. Quando acedido pela entrada sul, vindos da Praça do Império, reparamos que o local está ladeado por um conjunto de hortas comunitárias, tirando proveito do ribeiro que o atravessa e da sombra proporcionada pelo denso arvoredo. A zona é muito fértil e húmida todo o ano, de um verde exuberante, sendo por isso propícia ao aparecimento de espontâneas como o alho-bravo, a silva e o cardo-dos-picos, mas também outras como a urtiga dióica, a capuchinha e o funcho que surgem em núcleos populacionais de muitos indivíduos.
Este local, hoje um baldio urbano de árvores de grande porte, foi outrora habitado. Acredita-se que a ocupação do Monte da Ervilha remonta à pré-história, pelas ferramentas em pedra encontradas no local. Neste mesmo sítio foi edificado o "Espaldão", uma fortificação militar mandada construir pelo rei D. Miguel I que serviu a Guerra Civil Portuguesa entre 1828-1834, também conhecida como o "Forte da Ervilha". Apesar de muito degradado e de difícil reconhecimento, é um dos poucos vestígios arquitectónicos do Cerco do Porto.
Nestes quatro terrenos mapeados, inventariamos 68 espécies espontâneas comestíveis, listadas alfabeticamente abaixo. Deste total, investigamos, compilamos e criamos conteúdos para 10 plantas, que serão introduzidas ao longo das próximas semanas no nosso arquivo.
A
Abrotea (Asphodelus ramosus)
Acácia-bastarda (Robinia pseudoacacia)
Agrião (Nasturtium officinale)
Alfavaca-de-cobra (Parietaria sp.)
Alho-bravo (Allium triquetrum)
Amor-de-hortelão (Galium apparine)
Ansarina branca (Chenopodium album)
Avoadinha (Conyza sp.)
Azedas (Rumex induratus)
Acelga Brava (Beta maritima)
Avenca (Adiantum capillus-veneris)
B
Beldroegas (Portulaca oleracea)
Bolsa-de-pastor (Capsella bursa-pastoris)
Bredo (Amaranthus cruentus)
C
Calendula (Calendula officinalis)
Camomila (Matricaria chamomilla)
Capuchinha (Tropaeolum majus)
Cardo-dos-picos (Galactites tomentosus)
Cardo-da-praia (Eryngium maritimum)
Cenoura-brava (Daucus carota)
Chicória (Cichorium intybus)
Chorão-da-praia (Carpobrotus edulis)
D
Dente-de-leão (Taraxacum sp.)
Diabelha (Plantago coronopus)
E
Eruca-da-praia (Cakile maritima)
Erva-de-São-Roberto (Geranium robertianum)
Erva-Azeda (Rumex acetosa)
Ervilhaca (Vicia sp.)
Espargo (Asparagus acutifolius)
Espinafre (Spinacia oleracea)
F
Feto (Pteridium aquilinum)
Figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica)
Funcho (Foeniculum vulgare)
Funcho marítimo (Crithmum maritimum)
G
Giesta (Cytisus striatus)
H
Hortelã-de-burro (Mentha suaveolens)
L
Linho (Linum usitatissimum)
Labaça (Rumex crispus)
M
Madressilva (Lonicera japonica)
Malva (Malva sp.)
Margarida (Bellis perennis)
Meliloto (Melilotus officinalis)
Morugem (Stellaria media)
Mostarda-brava (Sinapis arvensis)
O
Olho-de-mocho (Tolpis barbata)
P
Pampilho das searas (Glebionis segetum)
Poejo (Mentha pulegium)
R
Roseira-brava (Rosa canina)
Roselha (Cistus sp.)
S
Sabugueiro (Sambucus nigra)
Saramago (Raphanus raphanistrum)
Senécio (Senecio vulgaris)
Serralha (Sonchus oleraceus)
Silene (Silene vulgaris)
Silva (Rubus ulmifolius)
Soagem (Echium vulgare)
Sobreiro (Quercus suber)
T
Tagueda (Dittrichia viscosa)
Tanchagem (Plantago major)
Tanchagem (Plantago lanceolata)
Tojo (Ulex europaeus)
Trevos (Trifolium pratense)
U
Umbigo-de-vénus (Umbilicus rupestris)
Urtiga (Urtica dioica)
Urtiga (Urtica urens)
Urtiga mansa (Lamium purpureum)