Nº de partes comestíveis (2 / 6)
NOME CIENTÍFICO
Sambucus Nigra L.
Família de plantas
Caprifoleacea
Nome VULGAR
Sabugueiro
NOMES COMUNS
Candelheiro, canelheiro, caneleiro, canineiro, sabugo, rosa-de-bem-fazer, galacrista
NOME INGLÊS
Elder
NOME FRANcÊS
Sureau
CURIOSIDADES HISTÓRICO-CULTURAIS
A utilização do sabugueiro para fins culinários e medicinais era já conhecida dos povos pré-históricos e muito popular entre os Gregos e os Romanos. Acredita-se que tenha sido levado para a América do Sul pelos espanhóis, cujo clima em altitudes andinas é propício ao seu cultivo.
Em vários países da Europa ainda se colocam ramas desta árvore quando se limpam os estábulos ou na cama de palha dos animais, pois julga-se que o cheiro do sabugueiro afasta sapos, salamandras e outros répteis indesejados. Na Sicília planta-se sabugueiro para afastar as víboras.
É uma das árvores mais associadas ao folclore e à magia, existindo sobre ela várias lendas e superstições em todo o mundo. Na Europa é comum encontrar sabugueiros na entrada dos povoados pois, segundo a crença popular, esta espécie atraía os espíritos do bem. Em alguns países os bolinhos fritos, confecionados com as flores frescas do sabugueiro e mergulhados num polme de farinha, leite e ovo, são uma tradição de S. João e acredita-se que, se comidos nesse dia, evitarão a discórdia entre marido e mulher.
A sua madeira oca, leve e quebradiça, de pouca qualidade para talhar, era muito usada no fabrico de caixões e cruzes para decorar sepulturas, mas jamais era utilizada no fabrico de berços. Em Portugal, retirava-se a medula esbranquiçada dos ramos de sabugueiro, para fazer flautas de tamborileiro, operação executada por um ferro e facilitada pela sua textura esponjosa. Destes mesmos galhos as crianças faziam ainda atacadeiras, espécies de flechas que projetavam bolinhas de estopa. No entanto, devido à possibilidade de intoxicação, hoje em dia as crianças são desencorajadas a construir e usar brinquedos feitos desta madeira.
Na primeira metade do século XVIII, a procura de vinhos do Porto foi de tal modo significativa que os agricultores do Douro decidiram adicionar bagas de sabugueiro aos vinhos mais fracos, para lhes dar a cor e o aspecto dos vinhos do Porto de qualidade. Esta prática foi considerada falsificação pelo Marquês de Pombal e levou mais tarde à total proibição do cultivo do sabugueiro na área vitivinícola bem como do uso da sua baga nos vinhos, factos que conduziram à quase total extinção da espécie em Portugal.
DESCRIÇÃO BOTÂNICA
e formas de identificação
Arbusto ou pequena árvore de folha caduca [1], muito ramificado a partir da base, com copa densa e arredondada, de 3 a 10m de altura. O tronco, de cor cinzento-acastanhada quando jovem, apresenta uma casca grossa e sulcos longitudinais quando mais velho. Os ramos leves e arqueados contêm uma medula esbranquiçada e esponjosa, que os torna quebradiços. As folhas possuem uma tonalidade verde-escura, são opostas e compostas de 5 a 9 folíolos [2] lanceolados [3]. Apresenta grandes inflorescências [4] de flores brancas e perfumadas agrupadas em belos corimbos [5], seguidas por grandes cachos planos de pequenas bagas negras sumarentas.
[1] CADUCA diz-se das folhas que caem numa altura do ano, nas nossas condições climáticas no outono.
[2] FOLÍOLO cada uma das lâminas verdes que formam uma folha composta (ver FIG 6).
[3] LANCEOLADO que tem a forma do ferro da lança (ver FIG. 6).
[4] INFLORESCÊNCIA conjunto de flores e a forma como se encontram dispostas numa planta.
[5] CORIMBO tipo de cacho em que os ramos floríferos partem de pontos diversos, mas alcançam a mesma altura.
HABITAT E DISTRIBUIÇÃO
O sabugueiro cresce nas bermas de estradas e caminhos, em orlas de bosques, sebes, terrenos baldios, perto de linhas de água como rios, riachos e ribanceiras. Prefere zonas húmidas e sombrias com solos profundos e ricos, mas ocorre também em locais a meia-luz e de solo seco. Surge em terrenos até aos 1600m de altitude.
A espécie Sambucus nigra encontra-se na maioria das regiões temperadas e tem distribuição natural na Europa, Cáucaso e Ásia Ocidental. É subespontâneo no Norte de África (Argélia e Tunísia) e na Macaronésia (Açores e Madeira). Em Portugal é espontâneo em todo o território continental, sendo raro no Algarve; encontra-se cultivado com frequência, em especial na região norte e centro. No nosso país existe uma outra espécie de sabugueiro, o Sambucus lanceolata, endémico da Madeira e muito raro.
FIG 10. Mapeamento da espécie.
PROPRIEDADES Nutricionais
As flores do sabugueiro são ricas em óleos essenciais que contêm ácido linoleico, flavonoides, triterpenos, esteroides, rutina, colina, taninos, resinas, mucilagens, ácido málico, valeriânico e tartárico, açúcares e pectina.
Os frutos contêm cerca de 80% de água, proteínas, ácido málico, taninos, açúcar, ácido cítrico, vitaminas A e C e bioflavonoides.
USOS ALIMENTARES
As partes comestíveis do sabugueiro —flor e baga— são ingredientes ideais para fazer compotas e xaropes concentrados, com os quais se pode confecionar um sem número de receitas desde bebidas a molhos para pratos salgados e recheios ou coberturas para doces.
Antes de iniciar qualquer preparado com sabugeiro, há que ter em conta que:
a) O perfume das flores do sabugueiro atrai muitos insectos, e por isso há que limpá-las bem. As opiniões não são consensuais quanto ao melhor método de limpeza: umas fontes recomendam lavá-las em água; outras acreditam que quando molhadas perdem parte do seu aroma e, na sua vez, aconselham a sacudi-las e a retirar os insectos manualmente.
b) Todas as partes verdes da planta são ligeiramente tóxicas, pelo que é importante separar as flores dos respectivos pedúnculos (pés). Essa separação pode ser feita com a ajuda de uma tesoura ou de um pente de dentes largos.
c) As bagas possuem nas suas sementes glicósido cianogenético com alguma toxicidade. No entanto, essa toxicidade é completamente eliminada quando se cozem os frutos, por isso aconselhamos deixá-los ferver durante alguns minutos. O consumo das bagas cruas deve ser moderado. (Consultar a seção "precauções" no final desta página)
As flores, de aroma e sabor adocicado, passadas em polme (farinha e ovo) e fritas são um verdadeiro acepipe, mas também podem ser usadas para aromatizar vinagres e azeites. As flores dão um refresco maravilhoso e um “champanhe” à base de vinagre, açúcar e limão. Adicionadas ao arroz-doce, ficam deliciosas, quando aquecidas juntas com o leite (sem ferver) e depois coadas.
As bagas escuras são algo adstringentes, se não estiverem bem maduras, e produzem boas compotas e recheios de tartes (utilize-as da mesma forma que usaria a amora, a framboesa ou o mirtilo; pode inclusivamente misturar estes frutos na confecção de geleias) bem como bebidas alcoólicas.
PARTES COMESTÍVEIS
raiz
CAULE
FOLHA
FLOR
FRUTO
SEMENTE
época de colheita
×
×
×
Primavera / início Verão
Verão
×
modos de preparo
×
×
×
cru / cozinhado / desidratado / compota / condimento / bebida
cru / cozinhado / desidratado / compota / condimento / bebida
×
SUGESTÕES ALIMENTARES
×
×
×
Em xaropes concentrados; aromatização de vinagres, azeites e licores; em infusões, refrescos, vinhos e champanhe; em compotas, geleias e caldas para sobremesas.
Em xaropes concentrados, compotas, recheios de tartes e queques; refrescos e vinhos.
×
PLANTAS COMESTÍVEIS SEMELHANTES
A espécie Viburnum opulus, da mesma família do sabugueiro, popularmente conhecida por bola-de-neve ou noveleiro, é um arbusto silvestre extremamente resistente, medicinal e decorativa, cujas bagas têm usos culinários semelhantes ao sabugueiro e proporcionam uma boa geleia.
OUTROS USOS
O sabugueiro é uma espécie com uma longa história na medicina tradicional, podendo utilizar-se tanto as flores frescas como secas, as bagas e até mesmo as folhas e a casca, apesar de hoje em dia estas últimas serem consideradas tóxicas e a maioria das pessoas não as usarem.
As flores, com propriedades anti-inflamatórias e diaforéticas, são muito úteis em infusões para reduzir a febre, promovendo a sudação, aliviando a tosse e várias afeções do tórax. Ao estimularem a excreção de urina ajudam a eliminar toxinas do organismo, sendo úteis em casos de arterite, reumático e gota. Uma infusão de flores de sabugueiro é também muito eficaz em casos de sinusite aguda bem como no combate a gripes, constipações e inflamações das vias respiratórias, principalmente quando usadas em conjunto com outras plantas — por exemplo, junta-se ao sabugueiro o milefólio (Achillea millefolium L.) e a hortelã-pimenta (Mentha x piperita L.) em partes iguais. Externamente, a infusão das flores pode ainda ser utilizada em compressas para tratar conjuntivites. A infusão das flores em vinagre, pode ser utilizada em gargarejos e bochechos contra dores de garganta e amigdalites; se diluída em água, pode também ser usada em lavagens no tratamento de candidíase.
Tanto as flores como as bagas têm propriedades antimicrobianas e descongestionantes. Na medicina tradicional, o cozimento das bagas secas usava-se internamente para combater as diarreias das pessoas e do gado e externamente para sarar erupções, sobretudo as resultantes da varicela e do sarampo. As propriedades dos frutos ricos em antocianinas são antioxidantes, suavemente laxantes (se ingeridos crus em grandes quantidades), mas também antidiarreicas (se cozinhados). Um chá feito com bagas secas é considerado um bom remédio para cólicas e diarreia. Com as bagas faz-se um xarope ou concentrado que ajuda a combater tosses e constipações e uma saborosa bebida, rica em vitaminas. O seu consumo aumenta a resistência ao stresse. As bagas melhoram a microcirculação venosa protegendo as paredes das veias e artérias contra o stresse oxidativo, contribuindo para a prevenção de doenças vasculares. Ajudam também a baixar o colesterol e a prevenir a arteriosclerose. Estudos recentes parecem indicar que o enriquecimento da alimentação com extratos da baga do sabugueiro potencia a prevenção da doença da diabetes.
Em Miranda do Douro existem registos de preparados à base de folhas e casca de sabugueiro para a criação de remédios caseiros. Ali, a infusão de folhas era pouco frequente, mas usada para lavagens de olhos inflamados; por sua vez, a casca dos ramos mais grossos, colhida no outono, era indicada para uso tópico, quando seca e moída e incorporada com um ou vários dos seguintes ingredientes: azeite, cera de abelha, vinho tinto, óleo queimado, sebo de borrego ou farelo de trigo. Aos componentes anteriores podia juntar-se ainda folhas de outras plantas, como por exemplo, da avoadinha (Conyza canadensis L.), da nogueira (Juglans regia L.) ou da hortelã (Mentha sp.pl.). Estas pomadas eram então aplicadas em feridas, queimaduras e outros problemas de pele.
As flores de sabugueiro, frescas ou secas, são muito utilizadas na indústria de cosméticos para uso tópico, no fabrico de cremes e pomadas, bálsamo labial, loções solares, sabonetes, máscaras, tónicos. Estão aconselhadas para desinfectar feridas, para peles sensíveis e para aclarar as manchas. Com a água de flores de sabugueiro faz-se um apreciado after shave.
Existem várias referência ao uso de bagas de sabugueiro para tingir tonalidades entre o violeta, o vermelho, o acastanhado, o azulado e o negro, conforme a técnica, a quantidade e o grau de maturação dos frutos. As folhas são também utilizadas, a partir das quais se obtém um verde amarelado.
O sabugueiro é uma espécie de fácil cultivo que tolera a maioria dos solos, embora prefira terrenos húmidos. É uma espécie indicadora de solos ricos em azoto, sendo comum a sua aparição em locais ricos em nitrato. Gosta de locais sombrios ou com meia sombra. É resistente ao frio do inverno e a floração não é afetada pela geada. Propaga-se facilmente a partir de estacarias, durante o outono. Para estimular o desenvolvimento de hormonas de enraizamento, envolve-se um galho ou um rebento da base em algumas folhas de consolda ou salgueiro.
As flores do sabugueiro são tradicionalmente utilizadas na conservação das maçãs, quando colocadas em camadas alternadas com as mesmas e fechadas numa caixa de cartão.
PRECAUÇÕES
As bagas do sabugueiro são comestíveis unicamente quando maduras. Quando ingeridas cruas, especialmente se não estiveram bem amadurecidas, podem causar náuseas e indigestão. Para além disso, é importante ter em conta que as sementes das bagas possuem sambunigrina, um glicósido cianogenético (que dá origem a cianeto quando processado pelo metabolismo) que as torna ligeiramente tóxicas, pelo que devem ser consumidas com moderação. A toxicidade das bagas é eliminada depois de cozidas, secas ou fermentadas, por isso algumas fontes desaconselham o seu consumo fresco.
Uma vez que todas as partes verdes da planta —tronco, ramos, folhas, frutos verdes— apresentam alguma toxicidade, no caso do uso da flor para fins culinários é recomendável retirar o pedúnculo (pé ou haste) da mesma antes de utilizá-la.
As folhas podem causar dermatite de contacto.
Não confundir o sabugueiro (Sambucus nigra) com o ébulo (Sambucus ébulus), muito semelhante mas de porte herbáceo e cujas bagas são tóxicas quando ingeridas.
*A Recoletora e os seus autores não se responsabilizam por quaisquer incidentes ou efeitos adversos decorrentes do uso de plantas ou remédios neste site mencionados, e declinam qualquer responsabilidade sobre eventuais erros, omissões ou uso indevido das informações aqui contidas. Apesar de correctas, as sugestões terapêuticas não pretendem funcionar como alternativa a uma consulta médica especializada.
Nº de partes comestíveis (2 / 6)
NOME CIENTÍFICO
Sambucus Nigra L.
Família de plantas
Caprifoleacea
Nome VULGAR
Sabugueiro
NOMES COMUNS
Candelheiro, canelheiro, caneleiro, canineiro, sabugo, rosa-de-bem-fazer, galacrista
NOME INGLÊS
Elder
NOME FRANcÊS
Sureau
CURIOSIDADES HISTÓRICO-CULTURAIS
A utilização do sabugueiro para fins culinários e medicinais era já conhecida dos povos pré-históricos e muito popular entre os Gregos e os Romanos. Acredita-se que tenha sido levado para a América do Sul pelos espanhóis, cujo clima em altitudes andinas é propício ao seu cultivo.
Em vários países da Europa ainda se colocam ramas desta árvore quando se limpam os estábulos ou na cama de palha dos animais, pois julga-se que o cheiro do sabugueiro afasta sapos, salamandras e outros répteis indesejados. Na Sicília planta-se sabugueiro para afastar as víboras.
É uma das árvores mais associadas ao folclore e à magia, existindo sobre ela várias lendas e superstições em todo o mundo. Na Europa é comum encontrar sabugueiros na entrada dos povoados pois, segundo a crença popular, esta espécie atraía os espíritos do bem. Em alguns países os bolinhos fritos, confecionados com as flores frescas do sabugueiro e mergulhados num polme de farinha, leite e ovo, são uma tradição de S. João e acredita-se que, se comidos nesse dia, evitarão a discórdia entre marido e mulher.
A sua madeira oca, leve e quebradiça, de pouca qualidade para talhar, era muito usada no fabrico de caixões e cruzes para decorar sepulturas, mas jamais era utilizada no fabrico de berços. Em Portugal, retirava-se a medula esbranquiçada dos ramos de sabugueiro, para fazer flautas de tamborileiro, operação executada por um ferro e facilitada pela sua textura esponjosa. Destes mesmos galhos as crianças faziam ainda atacadeiras, espécies de flechas que projetavam bolinhas de estopa. No entanto, devido à possibilidade de intoxicação, hoje em dia as crianças são desencorajadas a construir e usar brinquedos feitos desta madeira.
Na primeira metade do século XVIII, a procura de vinhos do Porto foi de tal modo significativa que os agricultores do Douro decidiram adicionar bagas de sabugueiro aos vinhos mais fracos, para lhes dar a cor e o aspecto dos vinhos do Porto de qualidade. Esta prática foi considerada falsificação pelo Marquês de Pombal e levou mais tarde à total proibição do cultivo do sabugueiro na área vitivinícola bem como do uso da sua baga nos vinhos, factos que conduziram à quase total extinção da espécie em Portugal.
DESCRIÇÃO BOTÂNICA
e formas de identificação
Arbusto ou pequena árvore de folha caduca [1], muito ramificado a partir da base, com copa densa e arredondada, de 3 a 10m de altura. O tronco, de cor cinzento-acastanhada quando jovem, apresenta uma casca grossa e sulcos longitudinais quando mais velho. Os ramos leves e arqueados contêm uma medula esbranquiçada e esponjosa, que os torna quebradiços. As folhas possuem uma tonalidade verde-escura, são opostas e compostas de 5 a 9 folíolos [2] lanceolados [3]. Apresenta grandes inflorescências [4] de flores brancas e perfumadas agrupadas em belos corimbos [5], seguidas por grandes cachos planos de pequenas bagas negras sumarentas.
[1] CADUCA diz-se das folhas que caem numa altura do ano, nas nossas condições climáticas no outono.
[2] FOLÍOLO cada uma das lâminas verdes que formam uma folha composta (ver FIG 6).
[3] LANCEOLADO que tem a forma do ferro da lança (ver FIG. 6).
[4] INFLORESCÊNCIA conjunto de flores e a forma como se encontram dispostas numa planta.
[5] CORIMBO tipo de cacho em que os ramos floríferos partem de pontos diversos, mas alcançam a mesma altura.
HABITAT E DISTRIBUIÇÃO
O sabugueiro cresce nas bermas de estradas e caminhos, em orlas de bosques, sebes, terrenos baldios, perto de linhas de água como rios, riachos e ribanceiras. Prefere zonas húmidas e sombrias com solos profundos e ricos, mas ocorre também em locais a meia-luz e de solo seco. Surge em terrenos até aos 1600m de altitude.
A espécie Sambucus nigra encontra-se na maioria das regiões temperadas e tem distribuição natural na Europa, Cáucaso e Ásia Ocidental. É subespontâneo no Norte de África (Argélia e Tunísia) e na Macaronésia (Açores e Madeira). Em Portugal é espontâneo em todo o território continental, sendo raro no Algarve; encontra-se cultivado com frequência, em especial na região norte e centro. No nosso país existe uma outra espécie de sabugueiro, o Sambucus lanceolata, endémico da Madeira e muito raro.
FIG 10. Mapeamento da espécie.
PROPRIEDADES Nutricionais
As flores do sabugueiro são ricas em óleos essenciais que contêm ácido linoleico, flavonoides, triterpenos, esteroides, rutina, colina, taninos, resinas, mucilagens, ácido málico, valeriânico e tartárico, açúcares e pectina.
Os frutos contêm cerca de 80% de água, proteínas, ácido málico, taninos, açúcar, ácido cítrico, vitaminas A e C e bioflavonoides.
USOS ALIMENTARES
As partes comestíveis do sabugueiro —flor e baga— são ingredientes ideais para fazer compotas e xaropes concentrados, com os quais se pode confecionar um sem número de receitas desde bebidas a molhos para pratos salgados e recheios ou coberturas para doces.
Antes de iniciar qualquer preparado com sabugeiro, há que ter em conta que:
a) O perfume das flores do sabugueiro atrai muitos insectos, e por isso há que limpá-las bem. As opiniões não são consensuais quanto ao melhor método de limpeza: umas fontes recomendam lavá-las em água; outras acreditam que quando molhadas perdem parte do seu aroma e, na sua vez, aconselham a sacudi-las e a retirar os insectos manualmente.
b) Todas as partes verdes da planta são ligeiramente tóxicas, pelo que é importante separar as flores dos respectivos pedúnculos (pés). Essa separação pode ser feita com a ajuda de uma tesoura ou de um pente de dentes largos.
c) As bagas possuem nas suas sementes glicósido cianogenético com alguma toxicidade. No entanto, essa toxicidade é completamente eliminada quando se cozem os frutos, por isso aconselhamos deixá-los ferver durante alguns minutos. O consumo das bagas cruas deve ser moderado. (Consultar a seção "precauções" no final desta página)
As flores, de aroma e sabor adocicado, passadas em polme (farinha e ovo) e fritas são um verdadeiro acepipe, mas também podem ser usadas para aromatizar vinagres e azeites. As flores dão um refresco maravilhoso e um “champanhe” à base de vinagre, açúcar e limão. Adicionadas ao arroz-doce, ficam deliciosas, quando aquecidas juntas com o leite (sem ferver) e depois coadas.
As bagas escuras são algo adstringentes, se não estiverem bem maduras, e produzem boas compotas e recheios de tartes (utilize-as da mesma forma que usaria a amora, a framboesa ou o mirtilo; pode inclusivamente misturar estes frutos na confecção de geleias) bem como bebidas alcoólicas.
PARTES COMESTÍVEIS
FLOR
Época de colheita: Primavera / início Verão
Modos de preparo: cru / cozinhado / desidratado / compota / condimento / bebida
Sugestões alimentares: Em xaropes concentrados; aromatização de vinagres, azeites e licores; em infusões, refrescos, vinhos e champanhe; em compotas, geleias e caldas para sobremesas.
FRUTO
Época de colheita: Verão
Modos de preparo: cru / cozinhado / desidratado / compota / condimento / bebida
Sugestões alimentares: Em xaropes concentrados, compotas, recheios de tartes e queques; refrescos e vinhos.
PLANTAS COMESTÍVEIS SEMELHANTES
A espécie Viburnum opulus, da mesma família do sabugueiro, popularmente conhecida por bola-de-neve ou noveleiro, é um arbusto silvestre extremamente resistente, medicinal e decorativa, cujas bagas têm usos culinários semelhantes ao sabugueiro e proporcionam uma boa geleia.
OUTROS USOS
O sabugueiro é uma espécie com uma longa história na medicina tradicional, podendo utilizar-se tanto as flores frescas como secas, as bagas e até mesmo as folhas e a casca, apesar de hoje em dia estas últimas serem consideradas tóxicas e a maioria das pessoas não as usarem.
As flores, com propriedades anti-inflamatórias e diaforéticas, são muito úteis em infusões para reduzir a febre, promovendo a sudação, aliviando a tosse e várias afeções do tórax. Ao estimularem a excreção de urina ajudam a eliminar toxinas do organismo, sendo úteis em casos de arterite, reumático e gota. Uma infusão de flores de sabugueiro é também muito eficaz em casos de sinusite aguda bem como no combate a gripes, constipações e inflamações das vias respiratórias, principalmente quando usadas em conjunto com outras plantas — por exemplo, junta-se ao sabugueiro o milefólio (Achillea millefolium L.) e a hortelã-pimenta (Mentha x piperita L.) em partes iguais. Externamente, a infusão das flores pode ainda ser utilizada em compressas para tratar conjuntivites. A infusão das flores em vinagre, pode ser utilizada em gargarejos e bochechos contra dores de garganta e amigdalites; se diluída em água, pode também ser usada em lavagens no tratamento de candidíase.
Tanto as flores como as bagas têm propriedades antimicrobianas e descongestionantes. Na medicina tradicional, o cozimento das bagas secas usava-se internamente para combater as diarreias das pessoas e do gado e externamente para sarar erupções, sobretudo as resultantes da varicela e do sarampo. As propriedades dos frutos ricos em antocianinas são antioxidantes, suavemente laxantes (se ingeridos crus em grandes quantidades), mas também antidiarreicas (se cozinhados). Um chá feito com bagas secas é considerado um bom remédio para cólicas e diarreia. Com as bagas faz-se um xarope ou concentrado que ajuda a combater tosses e constipações e uma saborosa bebida, rica em vitaminas. O seu consumo aumenta a resistência ao stresse. As bagas melhoram a microcirculação venosa protegendo as paredes das veias e artérias contra o stresse oxidativo, contribuindo para a prevenção de doenças vasculares. Ajudam também a baixar o colesterol e a prevenir a arteriosclerose. Estudos recentes parecem indicar que o enriquecimento da alimentação com extratos da baga do sabugueiro potencia a prevenção da doença da diabetes.
Em Miranda do Douro existem registos de preparados à base de folhas e casca de sabugueiro para a criação de remédios caseiros. Ali, a infusão de folhas era pouco frequente, mas usada para lavagens de olhos inflamados; por sua vez, a casca dos ramos mais grossos, colhida no outono, era indicada para uso tópico, quando seca e moída e incorporada com um ou vários dos seguintes ingredientes: azeite, cera de abelha, vinho tinto, óleo queimado, sebo de borrego ou farelo de trigo. Aos componentes anteriores podia juntar-se ainda folhas de outras plantas, como por exemplo, da avoadinha (Conyza canadensis L.), da nogueira (Juglans regia L.) ou da hortelã (Mentha sp.pl.). Estas pomadas eram então aplicadas em feridas, queimaduras e outros problemas de pele.
As flores de sabugueiro, frescas ou secas, são muito utilizadas na indústria de cosméticos para uso tópico, no fabrico de cremes e pomadas, bálsamo labial, loções solares, sabonetes, máscaras, tónicos. Estão aconselhadas para desinfectar feridas, para peles sensíveis e para aclarar as manchas. Com a água de flores de sabugueiro faz-se um apreciado after shave.
Existem várias referência ao uso de bagas de sabugueiro para tingir tonalidades entre o violeta, o vermelho, o acastanhado, o azulado e o negro, conforme a técnica, a quantidade e o grau de maturação dos frutos. As folhas são também utilizadas, a partir das quais se obtém um verde amarelado.
O sabugueiro é uma espécie de fácil cultivo que tolera a maioria dos solos, embora prefira terrenos húmidos. É uma espécie indicadora de solos ricos em azoto, sendo comum a sua aparição em locais ricos em nitrato. Gosta de locais sombrios ou com meia sombra. É resistente ao frio do inverno e a floração não é afetada pela geada. Propaga-se facilmente a partir de estacarias, durante o outono. Para estimular o desenvolvimento de hormonas de enraizamento, envolve-se um galho ou um rebento da base em algumas folhas de consolda ou salgueiro.
As flores do sabugueiro são tradicionalmente utilizadas na conservação das maçãs, quando colocadas em camadas alternadas com as mesmas e fechadas numa caixa de cartão.
PRECAUÇÕES
As bagas do sabugueiro são comestíveis unicamente quando maduras. Quando ingeridas cruas, especialmente se não estiveram bem amadurecidas, podem causar náuseas e indigestão. Para além disso, é importante ter em conta que as sementes das bagas possuem sambunigrina, um glicósido cianogenético (que dá origem a cianeto quando processado pelo metabolismo) que as torna ligeiramente tóxicas, pelo que devem ser consumidas com moderação. A toxicidade das bagas é eliminada depois de cozidas, secas ou fermentadas, por isso algumas fontes desaconselham o seu consumo fresco.
Uma vez que todas as partes verdes da planta —tronco, ramos, folhas, frutos verdes— apresentam alguma toxicidade, no caso do uso da flor para fins culinários é recomendável retirar o pedúnculo (pé ou haste) da mesma antes de utilizá-la.
As folhas podem causar dermatite de contacto.
Não confundir o sabugueiro (Sambucus nigra) com o ébulo (Sambucus ébulus), muito semelhante mas de porte herbáceo e cujas bagas são tóxicas quando ingeridas.
*A Recoletora e os seus autores não se responsabilizam por quaisquer incidentes ou efeitos adversos decorrentes do uso de plantas ou remédios neste site mencionados, e declinam qualquer responsabilidade sobre eventuais erros, omissões ou uso indevido das informações aqui contidas. Apesar de correctas, as sugestões terapêuticas não pretendem funcionar como alternativa a uma consulta médica especializada.