A Recoletora junta botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers num projeto colaborativo e itinerante que tem como objetivo a recuperação das plantas silvestres comestíveis (popularmente chamadas de “daninhas”) e a reabilitação da sua reputação, reimaginando-as e reintegrando-as nas nossas dietas e hábitos alimentares.
O nosso trabalho alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento da vegetação espontânea comestível ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Não há ervas daninhas.
Daninho quer dizer que causa dano, que faz mal. Na sua origem, o termo «erva daninha» servia para distinguir as plantas que competiam com as plantações agrícolas, mas desde então generalizou-se e é usado para nomear qualquer planta que cresça de forma espontânea ou «fora do lugar». A Recoletora quer reabilitar a reputação destas plantas e consciencializar as pessoas para o valor dos tesouros que andamos — literalmente — a pisar.
Plantas insubmissas.
Olhar para estas plantas nesta perspetiva dá-nos outro entendimento do mundo e dos lugares que habitamos. Afinal, o nosso desdém por elas nasce dessa rebeldia, de não respeitarem a geometria que propomos para a cidade ou a homogeneidade ordeira do relvado. Tememos o mundo silvestre que habitam, mas ele não é baldio ou inculto.
O trabalho da diversidade.
A Recoletora quer ouvir este aviso e fazer o trabalho da diversidade, o labor meigo de espalhar a diferença e restaurar os laços que nos ligam a todos os seres vivos.
Uma compilação e um guia prático, a Recoletora constitui-se como um arquivo para os saberes que nos ligam à rede viva que anima e alimenta o planeta: do reconhecimento das espécies e dos seus habitats aos locais de recoleção, das partes comestíveis às receitas que as tornam saborosas e nutritivas. Em simultâneo, haverá lugar para apresentar os benefícios associados a outras utilizações destas plantas, como o medicinal, o cosmético, fibras e corantes, ou aqueles relacionados com a sua ação fundamental na prevenção da erosão dos solos, na regulação do clima e na manutenção dos ecossistemas.
Plantas de má fama como a urtiga e o cardo ou ignoradas como o dente-de-leão podem ser usadas para condimentar e enriquecer os nossos pratos e estão frequentemente à distância de um passo. Gratuitas e abundantes, estas plantas são muitas vezes mais nutritivas do que as que encontramos nos supermercados e podem ter um papel determinante na alimentação do futuro.
A Recoletora é um projeto que olha de forma diferente para este haver comum e convida-nos a corrigir o lugar que estas plantas têm no nosso imaginário. Através de várias iniciativas, como oficinas, mapeamentos, caminhadas e outras modalidades de trabalho de campo, queremos desconstruir os mapas mentais que fazemos do espaço vivido, expandindo o nosso território na direção extraordinária do baldio. Aquelas ervas lá dentro, não são daninhas; são insubmissas.
As plantas que irrompem da estrada e nos terrenos que abandonamos são embaixadoras de uma cultura mais rica e antiga que a nossa: turva e vivaz, é uma cultura sem avesso. Queiramos ou não, somos parte de uma comunidade que não supõe os conceitos de «fora» ou «outro». A ideia de que humanos e plantas ocupam espaços diferentes — que têm naturezas diferentes — é a verdadeira ideia daninha. É esta ideia que está por trás das práticas que danificam e desrespeitam o nosso meio ambiente, que ofendem o legado da vida no nosso planeta.
Teimando em reverdecer, as plantas silvestres são guardiãs da diversidade. A Recoletora propõe seguir o seu exemplo, sair dos trilhos usuais para olhar de novo os nossos espaços — transformar a ideia que temos da cidade, os nossos hábitos e rotinas. Conhecendo os vizinhos, passamos a olhar para a nossa rua de outra maneira. Tal como atraem insetos polinizadores e outros animais, estas plantas convidam-nos a entrar no terreno baldio e repensar o lugar que ocupamos no ecossistema. Elas alertam-nos contra as práticas nocivas das monoculturas dependentes do uso de herbicidas e avisam-nos: a diversidade é a nossa maior riqueza.
Uma das formas de o fazer é introduzir plantas novas nos nossos pratos, enriquecendo-os com os seus sabores e nutrientes, mas também criando lugares de troca e contacto entre humanos e mais que humanos, entre diferentes campos de conhecimento. Para este efeito, o design apresenta-se como a disciplina ideal, capaz de mediar linguagens e saberes distintos na constituição de uma plataforma aberta e acessível, mas também na imaginação de um trabalho de campo interventivo que possa sensibilizar as nossas comunidades e público para estas realidades.
A Recoletora foi criada em fevereiro de 2021 pelo fotógrafo e videasta Alexandre Delmar e pela designer e diretora criativa Maria Ruivo. Foi vencedora da bolsa de criação para as atividades satélite da Porto Design Biennale, promovida pelos municípios do Porto e de Matosinhos e organizada pela esad—idea, tendo integrado a sua programação através da criação de iniciativas como um website, uma campanha de mupis, duas caminhadas guiadas, dois workshops de culinária, duas apresentações públicas e um jantar.
A Recoletora junta botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers num projeto colaborativo e itinerante que tem como objetivo a recuperação das plantas silvestres comestíveis (popularmente chamadas de “daninhas”) e a reabilitação da sua reputação, reimaginando-as e reintegrando-as nas nossas dietas e hábitos alimentares.
O nosso trabalho alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento da vegetação espontânea comestível ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Uma compilação e um guia prático, a Recoletora constitui-se como um arquivo para os saberes que nos ligam à rede viva que anima e alimenta o planeta: do reconhecimento das espécies e dos seus habitats aos locais de recoleção, das partes comestíveis às receitas que as tornam saborosas e nutritivas. Em simultâneo, haverá lugar para apresentar os benefícios associados a outras utilizações destas plantas, como o medicinal, o cosmético, fibras e corantes, ou aqueles relacionados com a sua ação fundamental na prevenção da erosão dos solos, na regulação do clima e na manutenção dos ecossistemas.
Não há ervas daninhas.
Daninho quer dizer que causa dano, que faz mal. Na sua origem, o termo «erva daninha» servia para distinguir as plantas que competiam com as plantações agrícolas, mas desde então generalizou-se e é usado para nomear qualquer planta que cresça de forma espontânea ou «fora do lugar». A Recoletora quer reabilitar a reputação destas plantas e consciencializar as pessoas para o valor dos tesouros que andamos — literalmente — a pisar.
Plantas de má fama como a urtiga e o cardo ou ignoradas como o dente-de-leão podem ser usadas para condimentar e enriquecer os nossos pratos e estão frequentemente à distância de um passo. Gratuitas e abundantes, estas plantas são muitas vezes mais nutritivas do que as que encontramos nos supermercados e podem ter um papel determinante na alimentação do futuro.
A Recoletora é um projeto que olha de forma diferente para este haver comum e convida-nos a corrigir o lugar que estas plantas têm no nosso imaginário. Através de várias iniciativas, como oficinas, mapeamentos, caminhadas e outras modalidades de trabalho de campo, queremos desconstruir os mapas mentais que fazemos do espaço vivido, expandindo o nosso território na direção extraordinária do baldio. Aquelas ervas lá dentro, não são daninhas; são insubmissas.
Plantas insubmissas.
Olhar para estas plantas nesta perspetiva dá-nos outro entendimento do mundo e dos lugares que habitamos. Afinal, o nosso desdém por elas nasce dessa rebeldia, de não respeitarem a geometria que propomos para a cidade ou a homogeneidade ordeira do relvado. Tememos o mundo silvestre que habitam, mas ele não é baldio ou inculto.
As plantas que irrompem da estrada e nos terrenos que abandonamos são embaixadoras de uma cultura mais rica e antiga que a nossa: turva e vivaz, é uma cultura sem avesso. Queiramos ou não, somos parte de uma comunidade que não supõe os conceitos de «fora» ou «outro». A ideia de que humanos e plantas ocupam espaços diferentes — que têm naturezas diferentes — é a verdadeira ideia daninha. É esta ideia que está por trás das práticas que danificam e desrespeitam o nosso meio ambiente, que ofendem o legado da vida no nosso planeta.
Teimando em reverdecer, as plantas silvestres são guardiãs da diversidade. A Recoletora propõe seguir o seu exemplo, sair dos trilhos usuais para olhar de novo os nossos espaços — transformar a ideia que temos da cidade, os nossos hábitos e rotinas. Conhecendo os vizinhos, passamos a olhar para a nossa rua de outra maneira. Tal como atraem insetos polinizadores e outros animais, estas plantas convidam-nos a entrar no terreno baldio e repensar o lugar que ocupamos no ecossistema. Elas alertam-nos contra as práticas nocivas das monoculturas dependentes do uso de herbicidas e avisam-nos: a diversidade é a nossa maior riqueza.
O trabalho da diversidade.
A Recoletora quer ouvir este aviso e fazer o trabalho da diversidade, o labor meigo de espalhar a diferença e restaurar os laços que nos ligam a todos os seres vivos.
Uma das formas de o fazer é introduzir plantas novas nos nossos pratos, enriquecendo-os com os seus sabores e nutrientes, mas também criando lugares de troca e contacto entre humanos e mais que humanos, entre diferentes campos de conhecimento. Para este efeito, o design apresenta-se como a disciplina ideal, capaz de mediar linguagens e saberes distintos na constituição de uma plataforma aberta e acessível, mas também na imaginação de um trabalho de campo interventivo que possa sensibilizar as nossas comunidades e público para estas realidades.
A Recoletora foi criada em fevereiro de 2021 pelo fotógrafo e videasta Alexandre Delmar e pela designer e diretora criativa Maria Ruivo. Foi vencedora da bolsa de criação para as atividades satélite da Porto Design Biennale, promovida pelos municípios do Porto e de Matosinhos e organizada pela esad—idea, tendo integrado a sua programação através da criação de iniciativas como um website, uma campanha de mupis, duas caminhadas guiadas, dois workshops de culinária, duas apresentações públicas e um jantar.