A Recoletora é a prática artística e pedagógica do artista visual Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de interação entre as comunidades humanas e as vegetais. No seu trabalho, a dupla alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Explora temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, o saber-fazer tradicional, a paisagem, a memória, a etnobotânica e a literacia ecológica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições partilhadas, conversas, instalações comestíveis, exposições e publicações.
Não há ervas daninhas.
Daninho quer dizer que causa dano, que faz mal. Na sua origem, o termo «erva daninha» servia para distinguir as plantas que competiam com as plantações agrícolas, mas desde então generalizou-se e é usado para nomear qualquer planta que cresça de forma espontânea ou «fora do lugar». A Recoletora quer reabilitar a reputação destas plantas e consciencializar as pessoas para o valor dos tesouros que andamos — literalmente — a pisar.
Plantas insubmissas.
Olhar para estas plantas nesta perspetiva dá-nos outro entendimento do mundo e dos lugares que habitamos. Afinal, o nosso desdém por elas nasce dessa rebeldia, de não respeitarem a geometria que propomos para a cidade ou a homogeneidade ordeira do relvado. Tememos o mundo silvestre que habitam, mas ele não é baldio ou inculto.
O trabalho da diversidade.
A Recoletora quer ouvir este aviso e fazer o trabalho da diversidade, o labor meigo de espalhar a diferença e restaurar os laços que nos ligam a todos os seres vivos.
A Recoletora junta botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers num projeto colaborativo e itinerante que tem como objetivo a recuperação das plantas silvestres comestíveis (popularmente chamadas de “daninhas”) e a reabilitação da sua reputação, reimaginando-as e reintegrando-as nas nossas dietas e hábitos alimentares.
Uma compilação e um guia prático, a Recoletora constitui-se como um arquivo para os saberes que nos ligam à rede viva que anima e alimenta o planeta: do reconhecimento das espécies e dos seus habitats aos locais de recoleção, das partes comestíveis às receitas que as tornam saborosas e nutritivas. Em simultâneo, haverá lugar para apresentar os benefícios associados a outras utilizações destas plantas, como o medicinal, o cosmético, fibras e corantes, ou aqueles relacionados com a sua ação fundamental na prevenção da erosão dos solos, na regulação do clima e na manutenção dos ecossistemas.
Plantas de má fama como a urtiga e o cardo ou ignoradas como o dente-de-leão podem ser usadas para condimentar e enriquecer os nossos pratos e estão frequentemente à distância de um passo. Gratuitas e abundantes, estas plantas são muitas vezes mais nutritivas do que as que encontramos nos supermercados e podem ter um papel determinante na alimentação do futuro.
A Recoletora é um projeto que olha de forma diferente para este haver comum e convida-nos a corrigir o lugar que estas plantas têm no nosso imaginário. Através de várias iniciativas, como oficinas, mapeamentos, caminhadas e outras modalidades de trabalho de campo, queremos desconstruir os mapas mentais que fazemos do espaço vivido, expandindo o nosso território na direção extraordinária do baldio. Aquelas ervas lá dentro, não são daninhas; são insubmissas.
As plantas que irrompem da estrada e nos terrenos que abandonamos são embaixadoras de uma cultura mais rica e antiga que a nossa: turva e vivaz, é uma cultura sem avesso. Queiramos ou não, somos parte de uma comunidade que não supõe os conceitos de «fora» ou «outro». A ideia de que humanos e plantas ocupam espaços diferentes — que têm naturezas diferentes — é a verdadeira ideia daninha. É esta ideia que está por trás das práticas que danificam e desrespeitam o nosso meio ambiente, que ofendem o legado da vida no nosso planeta.
Teimando em reverdecer, as plantas silvestres são guardiãs da diversidade. A Recoletora propõe seguir o seu exemplo, sair dos trilhos usuais para olhar de novo os nossos espaços — transformar a ideia que temos da cidade, os nossos hábitos e rotinas. Conhecendo os vizinhos, passamos a olhar para a nossa rua de outra maneira. Tal como atraem insetos polinizadores e outros animais, estas plantas convidam-nos a entrar no terreno baldio e repensar o lugar que ocupamos no ecossistema. Elas alertam-nos contra as práticas nocivas das monoculturas dependentes do uso de herbicidas e avisam-nos: a diversidade é a nossa maior riqueza.
Uma das formas de o fazer é introduzir plantas novas nos nossos pratos, enriquecendo-os com os seus sabores e nutrientes, mas também criando lugares de troca e contacto entre humanos e mais que humanos, entre diferentes campos de conhecimento. Para este efeito, o design apresenta-se como a disciplina ideal, capaz de mediar linguagens e saberes distintos na constituição de uma plataforma aberta e acessível, mas também na imaginação de um trabalho de campo interventivo que possa sensibilizar as nossas comunidades e público para estas realidades.
NOTA CURRICULAR DA RECOLETORA
2021
Em 2021, A Recoletora foi vencedora da Bolsa de Criação para a Programação Satélite da Porto Design Biennale, organizada pela esad-idea e pelos Municípios do Porto e Matosinhos, contexto no qual foi criada.
2022
No ano seguinte, a convite dos curadores Filipa Ramos e Juan Toboso, integrou a programação “Pastos e Pastos” da Galeria Municipal do Porto com a criação do projeto de investigação “Meter o chão à boca”, a publicação de uma sonoteca e de uma fanzine com o mesmo nome.
Ainda em 2022, foi convidada pelo CMIA — Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo a desenvolver a exposição ao ar livre “A comida esquecida”, no Parque Ecológico Urbano.
Nesse ano, apresentou também os workshops “Na fronteira da horta, a comida marginal”, no Fórum da praça do CIAJG — Centro de Centro Internacional das Artes José de Guimarães a convite da curadora e arquiteta Andreia Garcia (Architectural Affairs), e “Verde Adentro: comida bravia nas margens do Neiva”, uma encomenda do Município de Esposende para o Fórum Internacional de Arte e Comunidade.
2023
Em 2023, iniciou uma parceria de longa duração com o Museu e Bibliotecas do Porto, de investigação, curadoria e programação, através da qual explora a temática da “Pele vegetal da cidade” em 23 atividades pedagógicas desenhadas para adultos e crianças.
Ainda neste ano, realizou o vídeo “O lodo ensina a dançar”, a convite dos Summary, atelier curador do MAM — Mês da Arquitectura da Maia, que esteve em exposição no Fórum da Maia. Foi ainda vencedora do Programa de Apoio a Projetos da Direção Geral das Artes com o projeto “Mesa Comum”, que teve lugar na vila de Fão, em Esposende, e contou com a participação da recém-chegada comunidade de refugiados.
Entre 2023 e 2024, o seu projeto “A emergência da raiz” integrou a exposição coletiva “Un rastro de furia e algas” no Salón Artesoado do Colexio de Fonseca, Santiago de Compostela.
2024
Em 2024, Alexandre Delmar e Maria Ruivo fizeram a sua primeira residência artística enquanto A Recoletora, cujos resultados foram apresentados na exposição “Dois tons de Cinza” e na instalação comestível “Descer o Monte”, ambos na Capela da Boa Viagem, no Funchal.
* Em paralelo às parcerias estabelecidas, desde a sua criação até ao presente momento, A Recoletora tem vindo a desenvolver a título independente, um conjunto de atividades pedagógicas regulares, totalizando 35 caminhadas guiadas de identificação botânica e 7 workshops temáticos. No total, A Recoletora impactou diretamente mais de 1800 pessoas com as suas atividades.
A Recoletora é a prática artística e pedagógica do artista visual Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de interação entre as comunidades humanas e as vegetais. No seu trabalho, a dupla alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Explora temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, o saber-fazer tradicional, a paisagem, a memória, a etnobotânica e a literacia ecológica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições partilhadas, conversas, instalações comestíveis, exposições e publicações.
A Recoletora junta botânicos, nutricionistas, chefs, artistas e designers num projeto colaborativo e itinerante que tem como objetivo a recuperação das plantas silvestres comestíveis (popularmente chamadas de “daninhas”) e a reabilitação da sua reputação, reimaginando-as e reintegrando-as nas nossas dietas e hábitos alimentares.
Uma compilação e um guia prático, a Recoletora constitui-se como um arquivo para os saberes que nos ligam à rede viva que anima e alimenta o planeta: do reconhecimento das espécies e dos seus habitats aos locais de recoleção, das partes comestíveis às receitas que as tornam saborosas e nutritivas. Em simultâneo, haverá lugar para apresentar os benefícios associados a outras utilizações destas plantas, como o medicinal, o cosmético, fibras e corantes, ou aqueles relacionados com a sua ação fundamental na prevenção da erosão dos solos, na regulação do clima e na manutenção dos ecossistemas.
Não há ervas daninhas.
Daninho quer dizer que causa dano, que faz mal. Na sua origem, o termo «erva daninha» servia para distinguir as plantas que competiam com as plantações agrícolas, mas desde então generalizou-se e é usado para nomear qualquer planta que cresça de forma espontânea ou «fora do lugar». A Recoletora quer reabilitar a reputação destas plantas e consciencializar as pessoas para o valor dos tesouros que andamos — literalmente — a pisar.
Plantas de má fama como a urtiga e o cardo ou ignoradas como o dente-de-leão podem ser usadas para condimentar e enriquecer os nossos pratos e estão frequentemente à distância de um passo. Gratuitas e abundantes, estas plantas são muitas vezes mais nutritivas do que as que encontramos nos supermercados e podem ter um papel determinante na alimentação do futuro.
A Recoletora é um projeto que olha de forma diferente para este haver comum e convida-nos a corrigir o lugar que estas plantas têm no nosso imaginário. Através de várias iniciativas, como oficinas, mapeamentos, caminhadas e outras modalidades de trabalho de campo, queremos desconstruir os mapas mentais que fazemos do espaço vivido, expandindo o nosso território na direção extraordinária do baldio. Aquelas ervas lá dentro, não são daninhas; são insubmissas.
Plantas insubmissas.
Olhar para estas plantas nesta perspetiva dá-nos outro entendimento do mundo e dos lugares que habitamos. Afinal, o nosso desdém por elas nasce dessa rebeldia, de não respeitarem a geometria que propomos para a cidade ou a homogeneidade ordeira do relvado. Tememos o mundo silvestre que habitam, mas ele não é baldio ou inculto.
As plantas que irrompem da estrada e nos terrenos que abandonamos são embaixadoras de uma cultura mais rica e antiga que a nossa: turva e vivaz, é uma cultura sem avesso. Queiramos ou não, somos parte de uma comunidade que não supõe os conceitos de «fora» ou «outro». A ideia de que humanos e plantas ocupam espaços diferentes — que têm naturezas diferentes — é a verdadeira ideia daninha. É esta ideia que está por trás das práticas que danificam e desrespeitam o nosso meio ambiente, que ofendem o legado da vida no nosso planeta.
Teimando em reverdecer, as plantas silvestres são guardiãs da diversidade. A Recoletora propõe seguir o seu exemplo, sair dos trilhos usuais para olhar de novo os nossos espaços — transformar a ideia que temos da cidade, os nossos hábitos e rotinas. Conhecendo os vizinhos, passamos a olhar para a nossa rua de outra maneira. Tal como atraem insetos polinizadores e outros animais, estas plantas convidam-nos a entrar no terreno baldio e repensar o lugar que ocupamos no ecossistema. Elas alertam-nos contra as práticas nocivas das monoculturas dependentes do uso de herbicidas e avisam-nos: a diversidade é a nossa maior riqueza.
O trabalho da diversidade.
A Recoletora quer ouvir este aviso e fazer o trabalho da diversidade, o labor meigo de espalhar a diferença e restaurar os laços que nos ligam a todos os seres vivos.
Uma das formas de o fazer é introduzir plantas novas nos nossos pratos, enriquecendo-os com os seus sabores e nutrientes, mas também criando lugares de troca e contacto entre humanos e mais que humanos, entre diferentes campos de conhecimento. Para este efeito, o design apresenta-se como a disciplina ideal, capaz de mediar linguagens e saberes distintos na constituição de uma plataforma aberta e acessível, mas também na imaginação de um trabalho de campo interventivo que possa sensibilizar as nossas comunidades e público para estas realidades.
NOTA CURRICULAR DA RECOLETORA
2021
Em 2021, A Recoletora foi vencedora da Bolsa de Criação para a Programação Satélite da Porto Design Biennale, organizada pela esad-idea e pelos Municípios do Porto e Matosinhos, contexto no qual foi criada.
2022
No ano seguinte, a convite dos curadores Filipa Ramos e Juan Toboso, integrou a programação “Pastos e Pastos” da Galeria Municipal do Porto com a criação do projeto de investigação “Meter o chão à boca”, a publicação de uma sonoteca e de uma fanzine com o mesmo nome.
Ainda em 2022, foi convidada pelo CMIA — Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental de Viana do Castelo a desenvolver a exposição ao ar livre “A comida esquecida”, no Parque Ecológico Urbano.
Nesse ano, apresentou também os workshops “Na fronteira da horta, a comida marginal”, no Fórum da praça do CIAJG — Centro de Centro Internacional das Artes José de Guimarães a convite da curadora e arquiteta Andreia Garcia (Architectural Affairs), e “Verde Adentro: comida bravia nas margens do Neiva”, uma encomenda do Município de Esposende para o Fórum Internacional de Arte e Comunidade.
2023
Em 2023, iniciou uma parceria de longa duração com o Museu e Bibliotecas do Porto, de investigação, curadoria e programação, através da qual explora a temática da “Pele vegetal da cidade” em 23 atividades pedagógicas desenhadas para adultos e crianças.
Ainda neste ano, realizou o vídeo “O lodo ensina a dançar”, a convite dos Summary, atelier curador do MAM — Mês da Arquitectura da Maia, que esteve em exposição no Fórum da Maia. Foi ainda vencedora do Programa de Apoio a Projetos da Direção Geral das Artes com o projeto “Mesa Comum”, que teve lugar na vila de Fão, em Esposende, e contou com a participação da recém-chegada comunidade de refugiados.
Entre 2023 e 2024, o seu projeto “A emergência da raiz” integrou a exposição coletiva “Un rastro de furia e algas” no Salón Artesoado do Colexio de Fonseca, Santiago de Compostela.
2024
Em 2024, Alexandre Delmar e Maria Ruivo fizeram a sua primeira residência artística enquanto A Recoletora, cujos resultados foram apresentados na exposição “Dois tons de Cinza” e na instalação comestível “Descer o Monte”, ambos na Capela da Boa Viagem, no Funchal.
* Em paralelo às parcerias estabelecidas, desde a sua criação até ao presente momento, A Recoletora tem vindo a desenvolver a título independente, um conjunto de atividades pedagógicas regulares, totalizando 35 caminhadas guiadas de identificação botânica e 7 workshops temáticos. No total, A Recoletora impactou diretamente mais de 1800 pessoas com as suas atividades.