Ativar a memória coletiva em torno do antigo mercado de Guimarães, através de um workshop de partilha de conhecimento sobre plantas esquecidas, espontâneas, comestíveis e gratuitas, literalmente deixadas à margem.
Tipologia do Projeto
#pedagógico #encomenda
categoriaS
#workshop #formação #investigação #instalação comestível
Encomenda e CURADORIA
Architectural Affairs, Andreia Garcia
local
Fórum, instalado na Praça do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães
DURAÇÃO
16 de Outubro 2022
EQUIPA
Alexandre Delmar e Maria Ruivo, com Fernanda Botelho e Maria Tavares
Apoios
Município de Guimarães, CIAJG - Centro Internacional das Artes José de Guimarães, EAAD - Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho
Contexto do projeto
A convite da arquiteta e curadora Andreia Garcia, do estúdio Architectural Affairs, desenhámos um workshop sobre alimentação, ecologia e comunidade, tendo como ponto de partida um lugar específico: o Fórum. Localizado na praça do Centro Internacional das Artes José de Guimarães, o Fórum foi um pavilhão efémero, criado pela Andreia Garcia, que evocou as estruturas do antigo antigo mercado municipal de Guimarães.
Para a criação do nosso workshop, que foi apresentado nas bancas deste Fórum, interessou-nos pensar na ideia de mercado de um ponto de vista metafórico (enquanto espaço comum, lugar social, lugar de memória, de afetividade e de identidade gastronómica), mas também de um ponto de vista concreto (enquanto o lugar físico onde outrora se vendiam não só os legumes e hortaliças produzidos localmente, mas também ervas recoletadas).
Consequentemente, para nós foi também importante reflectir sobre o conceito de “horta”. A horta que, enquanto local destinado ao cultivo da terra para fins alimentares, é sempre um local bem limitado e concebido com muito esforço e dedicação. Decidimos então visitar as Hortas Pedagógicas na entrada da cidade de Guimarães, onde encontramos outras comidas. Estamos a falar das plantas silvestres que despontam “fora do lugar”, mais precisamente nas margens das hortas e que, em oposição, se multiplicam sem qualquer esforço e sem gasto de recursos. São as plantas comestíveis não cultivadas, a que muitos hortelãos chamam de “pragas”, “infestantes” ou “daninhas”!
SINOPSE DO WORKSHOP
A horta, enquanto local destinado ao cultivo da terra, é, por definição, um local limitado e de contornos precisos. Dentro desses limites e entre hortaliças e legumes, o hortelão cria o seu paraíso, manifesto da sua individualidade, concebido através do seu trabalho e suor. Tudo o que está para além da fronteira do seu paraíso é um espaço de indiferença.
Neste workshop, A Recoletora propôs olhar sobre estes espaços de indiferença através da recoleção das plantas espontâneas comestíveis que despontam nas bordaduras das hortas da cidade de Guimarães, onde estoicamente crescem e multiplicam-se sem qualquer esforço. Estas espécies resilientes, muitas vezes mais nutritivas do que os hortícolas comuns, são a comida marginal e gratuita que propusemos trazer, expor e provar nas bancas de venda do “Fórum”.
Convidamos a comunidade local a reunir-se no Fórum, à volta da mesa, para falar sobre plantas silvestres comestíveis e dar resposta a perguntas como: Que plantas são estas? Como se chamam? Onde se podem encontrar? Como se identificam? Que benefícios trazem? Que partes se podem comer? Como se cozinham?
Juntos cozinhámos melhores dietas e histórias alimentares para o futuro, partindo de recursos vegetais esquecidos, espontâneos, saborosos, nutritivos, e literalmente deixados à margem.
Pusemos a mesa: 1 toalha de papel, 15 pratos com 1 espécie espontânea cada; petiscos silvestres, doces e salgados; pão de fermentação lenta, também ele feito com ingredientes bravios; copos suficientes para todos bebermos a infusão de bolota.
Provámos as plantas em cru e harmonizadas entre si em receitas simples e saborosas, criadas pela chef de cozinha Maria Tavares para este workshop, que foi orientado pela herbalista Fernanda Botelho. Com ela aprendemos os nomes científicos e populares de cada planta, a família botânica a que pertencem, as partes comestíveis, as propriedades nutricionais e medicinais, e alguns truques para identificá-las correctamente.
As canetas e marcadores também estiveram à mesa, para que todos pudéssemos partilhar histórias, curiosidades, memórias, mas também escrever os sabores que sentíamos e até desenhar com os pigmentos naturais obtidos de cada erva.
Registamos que o dente-de-leão se chama “Pis-en-lit” em Francês (que significa “urinar na cama” em Português), pela sua extraordinária ação diurética; que em Espanha “estar criando malvas” quer dizer que uma pessoa está morta e enterrada, provavelmente pela abundância desta planta em cemitérios; que língua-de-ovelha é tanchagem e língua-de-vaca é labaça.
No final, ficamos com um testemunho honesto do que foi esta conversa corrida sobre a mesa: uma toalha de papel, escrita, suja com migalhas de pão e bolo de funcho, pintada com a infusão de bolota entornada e manchada com nódoas de pesto de urtiga, húmus de malva e dente-de-leão, e xarope de hortelã-de-burro com erva-cidreira!
ESPÉCIES Silvestres TRABALHADAS
A
Ansarina-branca (Chenopodium album)
Azedas (Oxalis pes-caprae)
C
Capuchinha (Tropaeolum majus)
D
Dente-de-leão (Taraxacum officinale)
E
Erva-cidreira (Melissa officinalis)
F
Funcho (Foeniculum vulgare)
H
Hortelã-de-burro (Mentha suaveolens)
L
Labaça (Rumex crispus)
M
Malva (Malva sylvestris)
Mostarda brava (Sinapis sp.)
O
Olhos-de-gato (Pentaglottis sempervirens)
T
Tanchagem (Plantago lanceolata)
Trevos (Trifolium pratense)
U
Urtiga (Urtica dioica)