“Pasto das Marés” é o novo projeto da Recoletora — em colaboração com o CMIA (Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental) e o Centro de Mar da Câmara Municipal de Viana do Castelo — que reflete criticamente sobre as dinâmicas ecológicas e culturais em torno das algas marinhas, a partir deste território. Tendo a flora algal da zona entremarés como epicentro, o projeto pretende ensaiar, junto da comunidade local, modos alternativos de alimentação e produção, bem como desenvolver estratégias empáticas para nos ligarmos a estas espécies e à paisagem costeira que co-habitamos.
Cruzando áreas como a ficologia (ciência que estuda as algas), a gastronomia, a pedagogia, a etnobotânica, a arquitetura, o design e a produção artística, o projeto estrutura-se em dois eixos programáticos:
O território de Viana do Castelo reúne condições únicas para implementar este projeto, nomeadamente:
Em Portugal o extraordinário potencial das algas é, de uma forma geral, desconhecido da maioria da população. Acreditamos, portanto, que a sua disseminação pode originar perspectivas inovadoras, questionar modos de vida e amplificar economias.
As algas prestam inúmeros serviços ecológicos: são a fonte de alimento e o refúgio para a vida animal marinha; são uma das principais fontes de oxigénio (estima-se que cerca de 50% a 70% do oxigénio presente na atmosfera terrestre seja gerado por algas) e capturam grandes quantidades de carbono; ajudam a regular o clima e na limpeza dos oceanos (algumas macroalgas, como a alface-do-mar, possuem a capacidade de remover metais pesados das águas contaminadas pela ação humana, de forma rápida e eficaz); contribuem para a prevenção da erosão costeira, enfraquecendo a força das ondas e servindo como barreira natural.
• As algas como recurso alimentar para o ser humano:
Que tipos de algas existem e quais são comestíveis? Como se identificam e se recoletam sem inviabilizar o seu crescimento? Como se cozinham? Que propriedades terapêuticas têm e como podemos tirar proveito delas? Qual o seu potencial nutritivo? Como podemos preservá-las para delas desfrutarmos em épocas de escassez? Porque é que as algas são consideradas um alimento do futuro se têm vindo a ser usadas tradicionalmente há centenas de anos por diferentes culturas costeiras do mundo? E a que se deve a quase inexistência deste recurso alimentar na gastronomia regional portuguesa, nomeadamente na zona litoral do Norte do país onde são tão abundantes? Que outras economias alimentares do mar podem ser potenciadas, para além do marisco e da pesca?
• As algas enquanto fonte de fibras ou matéria:
Para além do uso das algas como fertilizante orgânico do solo, de que outras formas podemos tirar proveito destes organismos que dão à costa periódica e massivamente, evitando o seu desperdício? Que modos de produção alternativos podemos explorar visando a renovação de ofícios antigos ligados ao mar, como o de sargaçeiro/a agora em extinção? Que objetos contemporâneos podemos ensaiar a partir da exploração da materialidade e da performatividade das algas? Como podemos conciliar este recurso natural local com os artesãos, as universidades e os pequenos negócios locais, potenciando futuras e inovadoras economias locais?
Consideradas por muitos como as primeiras “plantas” do nosso planeta, numa altura em que a vida estava restrita aos oceanos e lagos, as algas existem na Terra há pelo menos 1,6 bilhões de anos (data do mais antigo depósito fóssil encontrado). Acredita-se que todas as plantas terrestres evoluíram a partir das algas verdes, em específico do grupo das carófitas, que gradualmente desenvolveram adaptações para se fixarem em terra.
As algas encontram-se normalmente em ecossistemas aquáticos, havendo diferentes espécies adaptadas para viver em ambientes de água salgada e doce; no entanto, algumas espécies de algas desenvolveram relações simbióticas com fungos, dando origem aos líquenes, que ocorrem em terra, habitualmente em locais húmidos e pouco acessíveis.
No caso de “Pasto das marés”, e como o nome do projeto indica, o foco estará nas algas marinhas, nomeadamente nas macroalgas, ou seja, nas algas visíveis a olho nu encontradas nas rochas das praias durante a maré baixa. Estas algas apresentam uma enorme variedade de formas, tamanhos e cores, podendo ter milímetros de comprimento ou atingir dimensões colossais até aos 50 metros, formando autênticas florestas aquáticas.
No que diz respeito aos benefícios da utilização das algas pelos seres humanos, destacamos: a sua eficácia enquanto adubo orgânico do solo (por serem muito ricas em minerais, como azoto e o potássio, as algas ajudam no crescimento das plantas cultivadas); o seu valor alimentar e a riqueza nutricional que oferecem, com múltiplos benefícios para a saúde; a grande diversidade de aplicações na indústria (alimentar, farmacêutica, cosmética, laboratorial, etc).
Por fim, é importante notar que as algas crescem rapidamente e cultivam-se facilmente, e têm a grande vantagem de não gastarem água doce na sua produção. Com a necessidade de alimentar uma população mundial em crescimento e um planeta a braços com as alterações climáticas, as algas surgem como a solução revolucionária que consegue combater estes dois problemas em simultâneo.
Após um ano e meio de investigação, "Pasto das Marés" apresenta-se ao público entre Maio e Dezembro de 2025, através de um ciclo de eventos composto por workshops, refeições, palestras, exposições e publicações.
PROGRAMA
24.05.2025
[17h30]
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO "Sargaço que se come"
Atividade aberta
Praia Norte
[18h30]
WORKSHOP #1: "Caminhar, identificar e recoletar algas comestíveis", por Elina Stolde
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Praia Norte
07.06.2025
[10h30]
WORKSHOP #2: "Cozinhar e comer algas", por Elina Stolde + Aija Repsa
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Parque Ecológico Urbano
27.06.2025
[18h30]
PALESTRA "Material, Musa e Método", por Julia Lohmann [EN]
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Atelier Iva Viana
27 + 28 + 29.06.2025
[vários]
WORKSHOP #3: "The Department of Seaweed em Viana – Pensar, Fazer e Estar com algas" por Julia Lohmann [EN]
Atividade paga sujeita a inscrição
Atelier Iva Viana + Praia Norte + Parque Ecológico Urbano
05.07.2025
[14h30]
WORKSHOP #4: "Preservar e armazenar algas comestíveis", por Aija Repsa + Elina Stolde
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Parque Ecológico Urbano
26.07.2025
[10h00]
WORKSHOP #5: "Fluxo e refluxo: cianotipia com algas", por Sara Botelho
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Praia Norte + Pavilhão contíguo ao parque infantil
24.01.2026
[17h30]
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO "Pasto das Marés"
Atividade aberta
Pavilhão Mnemonic
2026
LANÇAMENTO DA PUBLICAÇÃO "Baldio #01 — Pasto das Marés"
Atividade aberta
Centro de Mar
ATIVIDADES (informações e inscrições)
EQUIPA
A Recoletora é a prática colaborativa, artística e pedagógica do artista visual Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de reciprocidade e interação entre as comunidades humanas e as vegetais. No seu trabalho, a dupla alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis e medicinais ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Explora temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, o saber-fazer, a paisagem, a memória e a etnobotânica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições, conversas, exposições e publicações.
Para o projeto "Pasto das marés", A Recoletora reuniu uma equipa multidisciplinar à volta das algas marinhas, que conta com a participação de diferentes especialistas nacionais e estrangeiros, nomeadamente a designer alemã Julia Lohmann (com trabalho reconhecido mundialmente), a professora de artes visuais e design Sara Bento Botelho, os biólogos e investigadores marinhos Marina Dolbeth e Francisco Arenas, as chefs de cozinha letãs Elina Stolde e Aija Repsa, e o forager João Real.
Julia Lohmann (Hildesheim, Alemanha, 1977; vive em Helsínquia, Finlândia) é uma designer, investigadora e professora, que explora as dimensões éticas e materiais da nossa relação com a natureza. É Designer Real Honorária da Indústria em Design Regenerativo e Professora Associada de Design Contemporâneo na Universidade Aalto, Finlândia. Julia fundou o “Department of Seaweed” (Departamento de Algas Marinhas), uma comunidade que explora a materialidade e o impacto ecossistémico e regenerativo das algas. Lohmann promove uma mentalidade empática e biocêntrica e utiliza o design para conectar conhecimento, cuidado e ação entre disciplinas. Julia é doutorada pelo Royal College of Art e contribui para consórcios de investigação sobre design, biomateriais, ecologia e literacia oceânica. O seu trabalho é reconhecido mundialmente.
Sara Bento Botelho (Porto, 1974; vive no Porto) é uma artista plástica, designer e professora, especialmente interessada na ação e contaminação entre diferentes áreas científicas. Licenciada em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas Artes do Porto, tem um mestrado em Design e Produção Multimédia e um doutoramento em Design. É responsável pela produção multimédia de conteúdos visuais para os "Concertos Promenade" do Coliseu do Porto (2006—presente), atividade que levou ao desenvolvimento da tese de doutoramento intitulada “Design de Comunicação para concertos: Diálogo entre a Imagem e a Música”. É co-fundadora do projeto Marca Roskopf, numa parceria com a arquiteta Lara Plácido. A sua prática transita entre a atividade artística (que desenvolve de forma individual ou integrando coletivos) e as funções docentes (no ensino básico, secundário, superior e não formal) nas áreas das Artes Visuais e do Design de Comunicação.
Marina Dolbeth (Espinho, 1978; vive em Viana do Castelo) é bióloga marinha e investigadora no CIIMAR. É doutorada em Biologia, com especialização em Ecologia pela Universidade de Coimbra. Ao longo da sua carreira, tem trabalhado com diversas comunidades biológicas, reunindo conhecimento para melhor compreender as dinâmicas dos ecossistemas estuarinos e costeiros, de forma a auxiliar uma melhor gestão ambiental. Atualmente, foca-se na conservação e restauro de espécies formadoras de habitat, como as ervas e florestas marinhas, explorando o seu papel como soluções naturais para mitigar os impactos de atividades humanas e do clima. Neste âmbito, começou a investigar as comunidades de macroalgas do norte de Portugal, fundamentais tanto a nível ecológico como cultural. Dedica-se à promoção da Literacia dos Oceanos, realizando palestras e atividades educativas. Integra a equipa da Cátedra UNESCO “Ocean Expert”. O seu trabalho científico está publicado internacionalmente em mais de 80 artigos e capítulos de livro.
Francisco Arenas (Avilés, Astúrias, 1968; vive no Porto) é o Investigador Principal da Equipa de Ecologia Bentónica e Soluções Ambientais do CIIMAR — Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental. Com mais de 25 anos de experiência como ficólogo e ecólogo marinho proativo, tem dedicado a sua carreira ao estudo dos ecossistemas costeiros. A sua investigação concentra-se na monitorização de comunidades e no avanço da ecologia experimental para avaliar, compreender e prever os impactos das alterações globais — como as bioinvasões — nas populações e ecossistemas costeiros. Através de abordagens estruturais e funcionais, foca-se não só nas alterações na estrutura das comunidades, mas também nas suas consequências funcionais, procurando compreender de que forma as mudanças na biodiversidade e na composição dos ecossistemas afetam a resiliência e a produtividade dos habitats costeiros. É autor de mais de uma centena de publicações científicas em revistas internacionais de referência.
Aija Repsa (Kārsava, Letónia; 1984; vive no Porto) é chef de cozinha, especializada em cozinha vegetariana e vegana. É licenciada em Sociologia da Cultura pela Universidade da Letónia (2007) e tem os cursos Culinary Arts da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto (2016) e Food Fermentation: the Science of Cooking with Microbes edx da Harvard University (2021). Em 2011 veio para Portugal estagiar na Associação Cultural Casa da Horta, onde descobriu a sua paixão pela culinária e pelas práticas sustentáveis. Trabalhou em restaurantes de autor como Pedro Limão, Manna, Essência-Restaurante Vegetariano, e Duas de Letra. Tem um especial interesse pela cozinha sem desperdício, transformação de ingredientes humildes e todo o tipo de fermentações. Em 2020 co-criou, juntamente com a chef Elina Stolde, a Gata da Mata, um projeto de culinária silvestre que organiza passeios de identificação de algas ou cogumelos e workshops de fermentação de legumes e pão de massa-mãe.
Elina Stolde (Riga, Letónia, 1984; vive em Ermesinde) é chef de cozinha, música e etnomusicóloga. Tem um diploma em Canto de Coro pela Riga Dom Choi School (2005) e em Teoria da Cultura pela Academia de Cultura da Letónia (2006). É licenciada em Etnomusicologia pela Jazeps Vitols Latvian Academy of Music (2011). É chef de cozinha da associação cultural Casa da Horta, onde desenvolve, desde 2011, uma cozinha selvagem, vegan e sem desperdício. Em 2020, fundou em conjunto com a chef Aija Repsa, a Gata da Mata — um laboratório de experimentação colaborativo que promove o uso culinário das plantas espontâneas, através de oficinas de apanha de algas e cogumelos, pão de massa-mãe e fermentação de legumes. Colabora com vários projetos ligados à arte, à ecologia, à cozinha silvestre e à etnobotânica, tais como A Recoletora, Trigo-do-Umbigo, coletivo Urtigas 70, Cartas Solidárias ou Campus Paulo Cunha.
João Real (Porto, 1977; vive em Ermesinde) é técnico de palco e de montagem de exposições e eventos. Estudou Artes na Escola Soares dos Reis e licenciou-se em Design de Equipamento na ESAD. Interessa-se por vários tipos de conhecimentos ligados à terra, à produção manual e ao saber-fazer tradicional, que tem vindo a explorar através de diferentes coletivos. Fez parte da associação Designlocal, responsável pela produção e curadoria de exposições, das quais se destaca “2ndSkin — Cork Jewellery”, uma parceria com a ESAD que visou internacionalizar uma nova imagem da cortiça. É membro da associação cultural Urtigas 70, uma comunidade e um espaço gerido coletivamente, que programa dias abertos e oficinas relacionados com alimentação saudável, técnicas de subsistência, foraging, jardinagem, agricultura urbana, eco-construção, etc. Colabora regularmente com a Gata da Mata na temática das macroalgas. Contribui para o projeto “Pasto das marés”, da Recoletora, com várias saídas de campo para a inventariação da flora algal da Praia Norte.
GUIA DE RECOLEÇÃO SEGURA E SUSTENTÁVEL
Em estreita relação com o nosso programa, desenvolvemos um "Guia de Recoleção Segura e Sustentável" para esclarecer as principais regras e cuidados a ter na colheita de algas para fins alimentares humanos. Saiba mais aqui.
“Pasto das Marés” é o novo projeto da Recoletora — em colaboração com o CMIA (Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental) e o Centro de Mar da Câmara Municipal de Viana do Castelo — que reflete criticamente sobre as dinâmicas ecológicas e culturais em torno das algas marinhas, a partir deste território. Tendo a flora algal da zona entremarés como epicentro, o projeto pretende ensaiar, junto da comunidade local, modos alternativos de alimentação e produção, bem como desenvolver estratégias empáticas para nos ligarmos a estas espécies e à paisagem costeira que co-habitamos.
Cruzando áreas como a ficologia (ciência que estuda as algas), a gastronomia, a pedagogia, a etnobotânica, a arquitetura, o design e a produção artística, o projeto estrutura-se em dois eixos programáticos:
• As algas como recurso alimentar para o ser humano:
Que tipos de algas existem e quais são comestíveis? Como se identificam e se recoletam sem inviabilizar o seu crescimento? Como se cozinham? Que propriedades terapêuticas têm e como podemos tirar proveito delas? Qual o seu potencial nutritivo? Como podemos preservá-las para delas desfrutarmos em épocas de escassez? Porque é que as algas são consideradas um alimento do futuro se têm vindo a ser usadas tradicionalmente há centenas de anos por diferentes culturas costeiras do mundo? E a que se deve a quase inexistência deste recurso alimentar na gastronomia regional portuguesa, nomeadamente na zona litoral do Norte do país onde são tão abundantes? Que outras economias alimentares do mar podem ser potenciadas, para além do marisco e da pesca?
• As algas enquanto fonte de fibras ou matéria:
Para além do uso das algas como fertilizante orgânico do solo, de que outras formas podemos tirar proveito destes organismos que dão à costa periódica e massivamente, evitando o seu desperdício? Que modos de produção alternativos podemos explorar visando a renovação de ofícios antigos ligados ao mar, como o de sargaçeiro/a agora em extinção? Que objetos contemporâneos podemos ensaiar a partir da exploração da materialidade e da performatividade das algas? Como podemos conciliar este recurso natural local com os artesãos, as universidades e os pequenos negócios locais, potenciando futuras e inovadoras economias locais?
O território de Viana do Castelo reúne condições únicas para implementar este projeto, nomeadamente:
Consideradas por muitos como as primeiras “plantas” do nosso planeta, numa altura em que a vida estava restrita aos oceanos e lagos, as algas existem na Terra há pelo menos 1,6 bilhões de anos (data do mais antigo depósito fóssil encontrado). Acredita-se que todas as plantas terrestres evoluíram a partir das algas verdes, em específico do grupo das carófitas, que gradualmente desenvolveram adaptações para se fixarem em terra.
As algas encontram-se normalmente em ecossistemas aquáticos, havendo diferentes espécies adaptadas para viver em ambientes de água salgada e doce; no entanto, algumas espécies de algas desenvolveram relações simbióticas com fungos, dando origem aos líquenes, que ocorrem em terra, habitualmente em locais húmidos e pouco acessíveis.
Em Portugal o extraordinário potencial das algas é, de uma forma geral, desconhecido da maioria da população. Acreditamos, portanto, que a sua disseminação pode originar perspectivas inovadoras, questionar modos de vida e amplificar economias.
As algas prestam inúmeros serviços ecológicos: são a fonte de alimento e o refúgio para a vida animal marinha; são uma das principais fontes de oxigénio (estima-se que cerca de 50% a 70% do oxigénio presente na atmosfera terrestre seja gerado por algas) e capturam grandes quantidades de carbono; ajudam a regular o clima e na limpeza dos oceanos (algumas macroalgas, como a alface-do-mar, possuem a capacidade de remover metais pesados das águas contaminadas pela ação humana, de forma rápida e eficaz); contribuem para a prevenção da erosão costeira, enfraquecendo a força das ondas e servindo como barreira natural.
No caso de “Pasto das marés”, e como o nome do projeto indica, o foco estará nas algas marinhas, nomeadamente nas macroalgas, ou seja, nas algas visíveis a olho nu encontradas nas rochas das praias durante a maré baixa. Estas algas apresentam uma enorme variedade de formas, tamanhos e cores, podendo ter milímetros de comprimento ou atingir dimensões colossais até aos 50 metros, formando autênticas florestas aquáticas.
No que diz respeito aos benefícios da utilização das algas pelos seres humanos, destacamos: a sua eficácia enquanto adubo orgânico do solo (por serem muito ricas em minerais, como azoto e o potássio, as algas ajudam no crescimento das plantas cultivadas); o seu valor alimentar e a riqueza nutricional que oferecem, com múltiplos benefícios para a saúde; a grande diversidade de aplicações na indústria (alimentar, farmacêutica, cosmética, laboratorial, etc).
Por fim, é importante notar que as algas crescem rapidamente e cultivam-se facilmente, e têm a grande vantagem de não gastarem água doce na sua produção. Com a necessidade de alimentar uma população mundial em crescimento e um planeta a braços com as alterações climáticas, as algas surgem como a solução revolucionária que consegue combater estes dois problemas em simultâneo.
Após um ano e meio de investigação, "Pasto das Marés" apresenta-se ao público entre Maio e Dezembro de 2025, através de um ciclo de eventos composto por workshops, refeições, palestras, exposições e publicações.
PROGRAMA
24.05.2025
[17h30]
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO "Sargaço que se come"
Atividade aberta
Praia Norte
24.05.2025
[18h30]
WORKSHOP #1: "Caminhar, identificar e recoletar algas comestíveis", por Elina Stolde
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Praia Norte
07.06.2025
[10h30]
WORKSHOP #2: "Cozinhar e comer algas", por Elina Stolde + Aija Repsa
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Parque Ecológico Urbano
27.06.2025
[18h30]
PALESTRA "Material, Musa e Método", por Julia Lohmann [EN]
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Atelier Iva Viana
27 + 28 + 29.06.2025
[vários]
WORKSHOP #3: "The Department of Seaweed em Viana – Pensar, Fazer e Estar com algas" por Julia Lohmann [EN]
Atividade paga sujeita a inscrição
Atelier Iva Viana + Praia Norte + Parque Ecológico Urbano
05.07.2025
[14h30]
WORKSHOP #4: "Preservar e armazenar algas comestíveis", por Aija Repsa + Elina Stolde
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Parque Ecológico Urbano
26.07.2025
[10h00]
WORKSHOP #5: "Fluxo e refluxo: cianotipia com algas", por Sara Botelho
Atividade gratuita sujeita a inscrição
Praia Norte + Pavilhão contíguo ao parque infantil
24.01.2026
[17h30]
INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO "Pasto das Marés"
Atividade aberta
Pavilhão Mnemonic
2026
LANÇAMENTO DA PUBLICAÇÃO "Baldio #01 — Pasto das Marés"
Atividade aberta
Centro de Mar
ATIVIDADES (informações e inscrições)
EQUIPA
A Recoletora é a prática colaborativa, artística e pedagógica do artista visual Alexandre Delmar e da designer Maria Ruivo, dedicada ao estudo dos lugares de reciprocidade e interação entre as comunidades humanas e as vegetais. No seu trabalho, a dupla alia uma ação contínua de pesquisa, inventariação e mapeamento das plantas espontâneas comestíveis e medicinais ao resgate de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, numa lógica didática que propõe uma redescoberta da cidade através da recoleção e da deambulação pelos territórios do baldio urbano.
Explora temáticas relacionadas com a autonomia alimentar, a recoleção, o herbalismo, o saber-fazer, a paisagem, a memória e a etnobotânica, promovendo ações participativas como cartografias, caminhadas guiadas, workshops, refeições, conversas, exposições e publicações.
Para o projeto "Pasto das marés", A Recoletora reuniu uma equipa multidisciplinar à volta das algas marinhas, que conta com a participação de diferentes especialistas nacionais e estrangeiros, nomeadamente a designer alemã Julia Lohmann (com trabalho reconhecido mundialmente), a professora de artes visuais e design Sara Bento Botelho, os biólogos e investigadores marinhos Marina Dolbeth e Francisco Arenas, as chefs de cozinha letãs Elina Stolde e Aija Repsa, e o forager João Real.
Julia Lohmann (Hildesheim, Alemanha, 1977; vive em Helsínquia, Finlândia) é uma designer, investigadora e professora, que explora as dimensões éticas e materiais da nossa relação com a natureza. É Designer Real Honorária da Indústria em Design Regenerativo e Professora Associada de Design Contemporâneo na Universidade Aalto, Finlândia. Julia fundou o “Department of Seaweed” (Departamento de Algas Marinhas), uma comunidade que explora a materialidade e o impacto ecossistémico e regenerativo das algas. Lohmann promove uma mentalidade empática e biocêntrica e utiliza o design para conectar conhecimento, cuidado e ação entre disciplinas. Julia é doutorada pelo Royal College of Art e contribui para consórcios de investigação sobre design, biomateriais, ecologia e literacia oceânica. O seu trabalho é reconhecido mundialmente.
Sara Bento Botelho (Porto, 1974; vive no Porto) é uma artista plástica, designer e professora, especialmente interessada na ação e contaminação entre diferentes áreas científicas. Licenciada em Artes Plásticas – Escultura pela Faculdade de Belas Artes do Porto, tem um mestrado em Design e Produção Multimédia e um doutoramento em Design. É responsável pela produção multimédia de conteúdos visuais para os "Concertos Promenade" do Coliseu do Porto (2006—presente), atividade que levou ao desenvolvimento da tese de doutoramento intitulada “Design de Comunicação para concertos: Diálogo entre a Imagem e a Música”. É co-fundadora do projeto Marca Roskopf, numa parceria com a arquiteta Lara Plácido. A sua prática transita entre a atividade artística (que desenvolve de forma individual ou integrando coletivos) e as funções docentes (no ensino básico, secundário, superior e não formal) nas áreas das Artes Visuais e do Design de Comunicação.
Marina Dolbeth (Espinho, 1978; vive em Viana do Castelo) é bióloga marinha e investigadora no CIIMAR. É doutorada em Biologia, com especialização em Ecologia pela Universidade de Coimbra. Ao longo da sua carreira, tem trabalhado com diversas comunidades biológicas, reunindo conhecimento para melhor compreender as dinâmicas dos ecossistemas estuarinos e costeiros, de forma a auxiliar uma melhor gestão ambiental. Atualmente, foca-se na conservação e restauro de espécies formadoras de habitat, como as ervas e florestas marinhas, explorando o seu papel como soluções naturais para mitigar os impactos de atividades humanas e do clima. Neste âmbito, começou a investigar as comunidades de macroalgas do norte de Portugal, fundamentais tanto a nível ecológico como cultural. Dedica-se à promoção da Literacia dos Oceanos, realizando palestras e atividades educativas. Integra a equipa da Cátedra UNESCO “Ocean Expert”. O seu trabalho científico está publicado internacionalmente em mais de 80 artigos e capítulos de livro.
Francisco Arenas (Avilés, Astúrias, 1968; vive no Porto) é o Investigador Principal da Equipa de Ecologia Bentónica e Soluções Ambientais do CIIMAR — Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental. Com mais de 25 anos de experiência como ficólogo e ecólogo marinho proativo, tem dedicado a sua carreira ao estudo dos ecossistemas costeiros. A sua investigação concentra-se na monitorização de comunidades e no avanço da ecologia experimental para avaliar, compreender e prever os impactos das alterações globais — como as bioinvasões — nas populações e ecossistemas costeiros. Através de abordagens estruturais e funcionais, foca-se não só nas alterações na estrutura das comunidades, mas também nas suas consequências funcionais, procurando compreender de que forma as mudanças na biodiversidade e na composição dos ecossistemas afetam a resiliência e a produtividade dos habitats costeiros. É autor de mais de uma centena de publicações científicas em revistas internacionais de referência.
Aija Repsa (Kārsava, Letónia; 1984; vive no Porto) é chef de cozinha, especializada em cozinha vegetariana e vegana. É licenciada em Sociologia da Cultura pela Universidade da Letónia (2007) e tem os cursos Culinary Arts da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto (2016) e Food Fermentation: the Science of Cooking with Microbes edx da Harvard University (2021). Em 2011 veio para Portugal estagiar na Associação Cultural Casa da Horta, onde descobriu a sua paixão pela culinária e pelas práticas sustentáveis. Trabalhou em restaurantes de autor como Pedro Limão, Manna, Essência-Restaurante Vegetariano, e Duas de Letra. Tem um especial interesse pela cozinha sem desperdício, transformação de ingredientes humildes e todo o tipo de fermentações. Em 2020 co-criou, juntamente com a chef Elina Stolde, a Gata da Mata, um projeto de culinária silvestre que organiza passeios de identificação de algas ou cogumelos e workshops de fermentação de legumes e pão de massa-mãe.
Elina Stolde (Riga, Letónia, 1984; vive em Ermesinde) é chef de cozinha, música e etnomusicóloga. Tem um diploma em Canto de Coro pela Riga Dom Choi School (2005) e em Teoria da Cultura pela Academia de Cultura da Letónia (2006). É licenciada em Etnomusicologia pela Jazeps Vitols Latvian Academy of Music (2011). É chef de cozinha da associação cultural Casa da Horta, onde desenvolve, desde 2011, uma cozinha selvagem, vegan e sem desperdício. Em 2020, fundou em conjunto com a chef Aija Repsa, a Gata da Mata — um laboratório de experimentação colaborativo que promove o uso culinário das plantas espontâneas, através de oficinas de apanha de algas e cogumelos, pão de massa-mãe e fermentação de legumes. Colabora com vários projetos ligados à arte, à ecologia, à cozinha silvestre e à etnobotânica, tais como A Recoletora, Trigo-do-Umbigo, coletivo Urtigas 70, Cartas Solidárias ou Campus Paulo Cunha.
João Real (Porto, 1977; vive em Ermesinde) é técnico de palco e de montagem de exposições e eventos. Estudou Artes na Escola Soares dos Reis e licenciou-se em Design de Equipamento na ESAD. Interessa-se por vários tipos de conhecimentos ligados à terra, à produção manual e ao saber-fazer tradicional, que tem vindo a explorar através de diferentes coletivos. Fez parte da associação Designlocal, responsável pela produção e curadoria de exposições, das quais se destaca “2ndSkin — Cork Jewellery”, uma parceria com a ESAD que visou internacionalizar uma nova imagem da cortiça. É membro da associação cultural Urtigas 70, uma comunidade e um espaço gerido coletivamente, que programa dias abertos e oficinas relacionados com alimentação saudável, técnicas de subsistência, foraging, jardinagem, agricultura urbana, eco-construção, etc. Colabora regularmente com a Gata da Mata na temática das macroalgas. Contribui para o projeto “Pasto das marés”, da Recoletora, com várias saídas de campo para a inventariação da flora algal da Praia Norte.
GUIA DE RECOLEÇÃO SEGURA E SUSTENTÁVEL
Em estreita relação com o nosso programa, desenvolvemos um "Guia de Recoleção Segura e Sustentável" para esclarecer as principais regras e cuidados a ter na colheita de algas para fins alimentares humanos. Saiba mais aqui.
PASTO DAS MARÉS é um projeto da Recoletora em colaboração com o CMIA (Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental) e o Centro de Mar da Câmara Municipal de Viana do Castelo.
PASTO DAS MARÉS é um projeto da Recoletora em colaboração com o CMIA (Centro de Monitorização e Interpretação Ambiental) e o Centro de Mar da Câmara Municipal de Viana do Castelo.
[+351] 926 212 867
info@arecoletora.com